SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA AOS CEGOS
60 ANOS
Ensinando a Ver o Mundo
Blanchard Girão
Páginas: 207-209
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DOAR, UM ATO DE AMOR
Doar, pequena palavra de tão grande alcance. Os que anseiam em ver as cores da vida
dependem da doação de córneas para o transplante, técnica cirúrgica disseminada por
todo o mundo e há muitos anos exercida no Ceará.
Em 1976, nascia em Fortaleza, por iniciativa da Sociedade de
Assistência aos Cegos, o Banco de Olhos, encontrando apoio do Lions Clube, do
Rotary, e da imprensa e de outras instituições para uma jornada de conscientização
sobre a doação de córneas. "Doar é um ato de Amor" sinalizava uma das
campanhas, num esforço de convencimento à população.
Comprovada clinicamente a morte da pessoa, os médicos dispõem
de um período que oscila entre quatro e seis horas para a retirada das córneas em
condições do rigoroso aproveitamento. Armazenadas em um líquido especial, o likorol,
devem ser transplantadas algumas horas após. Os beneficiários são escolhidos de acordo
com uma lista de inscrição, obedecida a ordem de antiguidade. Porém, há uma exceção:
aqueles deficientes que conseguem particularmente a doação adquirem o direito de se
antecipar à relação.
As campanhas em prol das doações alcançaram ressonância no
seio do povo fortalezense. Cerca de duas mil pessoas inscreveram seus nomes como doadores,
autorizando a extração de suas córneas após a morte. Todavia, surge ainda outra
dificuldade: a família. Nem sempre os familiares concordam com a retirada dos órgãos de
seus entes falecidos, achando que o corpo sofrerá mutilações. Muitos cegos perdem a
chance de voltar a enxergar em razão dessa desinformação. Porque, segundo esclarecem os
médicos, a retirada das córneas não deixa qualquer vestígio, em razão da moderna
técnica cirúrgica empregada.
NENHUMA RESTRIÇÃO
Além de não prevalecer a
idéia de que o corpo do doador sofre mutilação com o aproveitamento das córneas,
outras objeções que as famílias às vezes apresentam não se amparam em qualquer motivo
verdadeiro. Assim, o argumento religioso não procede, porquanto todas as religiões
entendem as doações como um ato de solidariedade e amor ao próximo, uma maneira de
servir a Deus. Não existe também qualquer legislação no País impeditiva desse gesto,
aliás voluntário, porquanto as leis brasileiras também não determinam a sua
obrigatoriedade. Outro argumento insustentável está na idade do doador. Jovem ou idoso,
qualquer um pode doar suas córneas. Há restrições, contudo, a pessoas que hajam
morrido de moléstias infecto-contagiosas (Aids, tuberculose, virose não identificada,
etc), como também por causa de câncer.
Esclareça-se ainda que qualquer pessoa, mesmo que use óculos,
tenha miopia, astigmatismo, catarata ou outra doença visual, pode perfeitamente se tornar
doadora.
O empenho do Banco de Olhos do Ceará, através da Sociedade de
Assistência aos Cegos e do seu Instituto, centra-se no trabalho de conscientização
familiar para que acate a vontade do seu parente desaparecido ou, no caso de não haver
essa manifestação por parte do doador, tome a iniciativa de autorizar a extração das
córneas do morto.
Nesse trabalho de conscientização foi fundamental a atuação
do Sr. Aroldo Monteiro, que idealizou e implantou a prática de reuniões semanais, onde
conseguia juntar familiares dos doadores e dos transplantados com a finalidade de
desassociar o ato da doação da imagem da morte. Bem ao contrário, enfatizava Aroldo
nesses encontros, "quem fala em doação não deve falar de morte e sim de
continuação da vida". Por muitos anos, através de palestras em colégios,
associações de bairro, igrejas, emissoras de rádio e jornais, pela televisão, esse
emérito colaborador da SAC e do seu Banco de Olhos conseguiu aumentar substancialmente o
número de doações.
Os cegos do Ceará guardam este nome no coração: Aroldo
Monteiro.
PLANTÃO PERMANENTE
De acordo com a legislação em vigor, o Banco de Olhos do Ceará integra-se à Central de Captação de Órgãos do Estado do Ceará, que coordena o recebimento e destinação de órgãos doados. No Hospital Alberto Baquit Júnior, do Instituto dos Cegos, uma equipe médica é mantida em plantão permanente, responsabilizando-se pela retirada das córneas, dentro dos prazos médicos necessários, e pela realização das cirurgias de transplantes.
ESTATÍSTICAS
Números registrados entre 1996 a 2001, indicam que houve cerca de 700 (setecentas) doações, proporcionando o transplante de 495 córneas, com resultados bastante satisfatórios, sendo reduzidos os percentuais de rejeição. A fila de candidatos à doação é, porém, muito grande, superando a casa dos 1000, dos quais a metade reclama urgência na cirurgia. Eis por que a sociedade tem de entender a importância desse comportamento, ampliando as estatísticas de doadores e, conseqüentemente, de transplantados, seres humanos que voltarão a ter a alegria indescritível de voltar a ver a luz.
NO IJF
Uma das providências da SAC, objetivando aumentar as doações, foi a assinatura de um convênio com o Instituto José Frota-IJF, da Prefeitura de Fortaleza, para a manutenção ali de uma sala para uma equipe de assistentes sociais encarregadas do convencimento e orientação das famílias de pessoas que são vítimas fatais de acidentes a procederem à doação das córneas das mesmas.
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