SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA AOS CEGOS
60 ANOS
Ensinando a Ver o Mundo
Blanchard Girão
Páginas: 25-28
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Dentre os signatários da ata
de fundação da Sociedade de Assistência aos Cegos estava incluso o nome do Dr.
Magdaleno Girão Barroso. Ele é hoje um dos três remanescentes daquele grupo que se
reuniu para lançar a semente desta grande e profícua instituição.
Aos 90 anos de idade, forte e lúcido, o Dr. Magdaleno, acolhendo
pedido do redator deste livro, enviou do Rio, onde reside, uma página de muita
sensibilidade sobre a obra que ajudou a criar e que vê atingir a marca expressiva de 60
anos de existência, plenamente vitoriosa.
Dr. Magdaleno, que era jornalista e professor universitário
àquela época, não pôde devotar-se integralmente ao nobre empreendimento, mas nele
operou com extraordinária devoção sua primeira esposa, Dona Hélia Ellery Barroso, que
faleceria ainda bastante jovem, deixando seu nome entre as bravas pioneiras desta querida
instituição benemerente.
Dirigindo-se em particular ao responsável por estes textos, o
professor e jornalista conterrâneo equivocou-se ao conceder-lhe a autoria deste livro,
cuja idéia surgiu dos atuais e devotados dirigentes da SAC, à frente Dona Maria Josélia
Sá e Almeida, presidente da Casa, e de seu Diretor de Saúde, Dr. Francisco Waldo Pessoa
de Almeida, um dos baluartes desta entidade, à qual empresta devotada colaboração há
várias décadas.
Eis na íntegra a mensagem que o professor Magdaleno Girão nos
enviou do Rio de Janeiro:
LOUVADOS OS QUE SE ESFORÇARAM
PARA AMENIZAR-LHES A DOR
Caro primo e amigo
BLANCHARD
Afastado, desde 1970, de Fortaleza, já não tinha idéia da
extraordinária significação e importância que havia adquirido a Sociedade de
Assistência aos Cegos - SAC, sobre cuja história você vai lançar um livro
intitulado Ensinando a ver o mundo, precisamente na data comemorativa de
fundação da nobre instituição.
Sua idéia reveste-se de grande significação e justiça, tanto
em relação à própria entidade, vitoriosa, sob todos os aspectos, em seu desiderato,
como aos seres humanos que protege, amenizando-lhes a inexplicável injustiça a que são
relegados pela natureza.
Inexplicável, sim. Por quê pecados respondem ante a justiça
divina, pelo nascimento, ou pela justiça humana, depois, roubando-lhes a luz dos sóis e
a luminosidade dos luares?
Louvados os que se esforçaram por amenizar-lhes a dor, seja um
Cristo, que lhes devolveu a vista, quando procurado (Evangelho de São Mateus), seja um
Valentin Hauy, ao fundar, no Século XVIII, em Paris, a primeira escola de educação dos
cegos, seja Braille, aperfeiçoador do método e do seu adestramento, sejam, enfim, os
pioneiros e realizadores das múltiplas instituições, como a do Ceará, capazes de os
adestrar e lhes atenuar o sofrimento, incitando-os a conquistar ou reconquistar, pela
educação, o trabalho e a esperança, a visão do mundo.
Incitando, como você - Blanchard, ao publicar o seu livro,
repetindo as vitórias de tantos outros, mas, desta vez, superando-as, tanto pela
rememoração histórica da instituição protetora dos cegos no Ceará, quanto pelo bem,
em si, que você presta a essa sacrificada classe de seres humanos, à qual devemos, sem
dúvida, um verdadeiro exemplo para a nossa própria coragem de viver.
Extremamente louvável, portanto, a sua iniciativa, destinada
não só a colocar nossa terra no alto nível moral e cultural dos que propugnam pela boa
literatura, como a contribuir para essa verdadeira cruzada, vale dizer, a multiplicação
e observância dos valores fundamentais do humanismo, de uma sociedade axiologicamente
preparada para um futuro melhor que o desenhado ultimamente pelos desmandos da visão,
esta sim, cega, de um mundo em assombrosa situação conflitual.
Abraços do Magdaleno
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