DESCENTRAÇÃO INTERMITENTE DE LENTE INTRA-OCULAR
ASSOCIADA À QUEBRA PRECOCE DE UMA DAS ALÇAS
RELATO DE CASO
DE
Francisco Eurípedes Gomes de Lima *
Tiago Bessa Almeida Gonçalves **
Karla Feitosa Ximenes Vaasconcelos **
Alana Ferreira Gomes Dias **
Andrea Lima Couto **
* Médico oftalmologista da Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC
** Residente de oftalmologia da Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC
XVI Congresso Brasileiro de Prevenção a
Cegueira e Reabilitação Visual
Setembro de 2004
Rio de Janeiro - RJ
INTRODUÇÃO
A facectomia é atualmente um procedimento cirúrgico bastante realizado em nosso meio. Sabemos que apesar dos avanços das técnicas cirúrgicas e instrumentais ao longo dos anos, tal procedimento ainda não é isento de complicações. Algumas séries mostram que entre as complicações mais comuns estão a ruptura de cápsula posterior com ou sem perda vítrea, desinserção de zônula e luxação do núcleo para a câmara vítrea.(1,2,3). Parece que as complicações estreitamente relacionadas a LIO, como a quebra de sua estrutura, não são comumente relatadas, embora alguns autores as tenham descrito em associação a implantes de lentes dobáveis com cartuchos de inserção(4). A quebra de uma das alças e sua localização na câmara anterior foi descrita como um evento tardio associado a descompensação e posterior perda de enxerto corneano (5). Desta forma, compreendemos que, embora não muito relatados, os episódios relacionados com danos diretos a LIO podem ocorrer, devendo ser, portanto, do conhecimento do oftalmologista.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo masculino, 72 anos, foi submetido a facoemulsificação do cristalino seguida de implante de lente intra-ocular OFT-VISION acrílica, 5.0mm x 6.0mm, 13mm de diâmetro, peça única, biconvexa de +18.50 D em saco capsular OE, sem intercorrências. A partir do quarto P.O. o paciente queixava-se de visão embaçada através do olho recentemente operado. Referia que com o olhar em posição primária a imagem era nítida e tornava-se embaçada ao inclinar levemente para esquerda. Ao exame, informava visão 20/25 (c/c) em posição primária e < 20/400 ao inclinar para esquerda. Ao exame biomicroscópico observamos a LIO centrada. Quando solicitado a fletir o pescoço para esquerda e assim se posicionar na lâmpada de fenda observamos a LIO se mover e ficar descentrada temporal e inferiormente (anexo-fig.1). Quando o paciente fletiu o pescoço para a direita, a LIO voltou a sua posição centrada. Sob midríase, o padrão do movimento era o mesmo e podíamos observar parcialmente a alça superior da LIO, aparentemente íntegra (anexo-fig.2). A outra alça não era visualizada inferiormente. No exame do fundo do olho e do ângulo da câmara anterior não foi encontrado nenhum corpo estranho ou qualquer alteração. Foi levantada a hipótese de a alça da LIO estar quebrada. O paciente foi então submetido a explantação da LIO e substituição por outra do mesmo tipo que foi posta no saco capsular, cem dias após a primeira cirurgia. Procedimento realizado sem intercorrências. O exame da lente explantada revelou uma das alças quebrada (anexo-fig.3). Atualmente o paciente apresenta visão 20/25 (c/c) e LIO centrada.
DISCUSSÃO
Embora neste caso não tenha sido observada nenhuma porção remanescente da LIO dentro do olho, o que já foi relatado na literatura em associação com a quebra tardia da LIO(1), acreditamos que durante a manipulação e aposição da mesma, esta teve sua alça quebrada sem que o cirurgião percebesse, possibilitando o movimento da mesma dentro do saco capsular no pós-operatório precoce. Existe a possibilidade da LIO ter sofrido algum dano durante sua fabricação ou no período que se seguiu até o seu uso, o que a tornaria mais frágil, possibilitando a sua quebra durante a manipulação habitual no ato cirúrgico. Não encontramos relato semelhante na literatura descrevendo descentração intermitente de LIO decorrente de quebra precoce de uma das alças. Portanto, trata-se de uma complicação rara em cirurgia de catarata que pode resultar de uma LIO danificada inadvertidamente durante o ato cirúrgico e que pode ser satisfatoriamente solucionada com substituição da LIO.
ANEXO 1
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REFERÊNCIAS
1. Centurion, Virgílio; Lacava, Augusto Cezar; Caballero, Juan Carlos; Lucca, Eduardo S. de; Porto, Ricardo B. Complicaçöes per-operatórias durante a facoemulsificaçäo / Per-operative complications during phacoemulsification. Rev. bras. oftalmol;58(9):687-691, set. 1999. tab.
2. Araújo, Maria Emília Xavier dos Santos; Chou, André Chang; Silva, Clebert Reinaldo da; Oliveira, Leonardo Bruno de; Neustein, Isaac. Facoemulsificaçäo: resultados e complicaçöes nos primeiros 100 olhos / Phacoemulsification: outcomes and complications in the first 100 eyes. Arq. bras. oftalmol;63(1):29-31, jan.-fev. 2000. tab, graf.
3. Lambert, Lisandro Caron; Occhiutto, Marcelo Luis; Paparelli, Cassius M; Kniggendorf, Sergio; Akaishi, Leonardo; Mendonça, Benicio Dini; Cvintal, Tadeu. Resultados visuais e incidência de complicaçöes em facoemulsificaçäo com LIO por residentes / Visual results and complications of phacoemulsifications with intraocular lens implantation performed by residents. Rev. bras. oftalmol;56(12):953-6, dez. 1997. tab.
4. Habib NE; Singh J; Adams AD; Bartholomew RS. Cracked cartridges during foldableintraocular lens implantation. Comment In:J Cataract Refract Surg. 1996 Oct;22(8):1001-2
5. Eleftheriadis H; Sahu DN; Willekens B; Vrensen GF; Liu CS. Corneal decompensation and graft failure secondary to a broken posterior chamber poly(methyl methacrylate) intraocular lens haptic. J Cataract Refract Surg; 27(12):2047-50, 2001 Dec.
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