FILANTROPIA
SERÁ QUE AS NOSSAS ENTIDADES SÃO SÉRIAS?
Autores: |
|
Arnaldo Felipe de Almeida - Conselheiro da SAC
|
Esta é uma das perguntas mais freqüentes que
empresários e pessoas físicas fazem ao mostrar interesse em ajudar pessoas e entidades
que trabalham o social ou como é conhecido o Terceiro Setor.
Uma grande parte das entidades filantrópicas no Brasil, trabalham
realmente de modo sério e idôneo. Este cálculo foi obtido através de pesquisas anuais
de títulos protestados, ações judiciais contra entidades, cheques sem fundos de
diretores, etc. Em virtude disto, temos este alto percentual positivo de que as entidades
têm fichas limpas nesta área, contrastando com as médias e pequenas empresas, pessoas
físicas, e profissionais liberais em geral os quais não costumam se sair tão idôneos
assim.
Embora exista este alto índice de honestidade, temos que conviver com
algumas entidades com um espírito menos sério - digamos assim, que tem o péssimo
hábito de enganar a fé alheia. Como só não há jeito para a morte, temos condições
de evitar que nossa boa ação de doar nosso trabalho e ajuda pecuniária a alguma
entidade, possa ser desviada para outros fins menos nobres e por que não dizer obscuros.
Existem algumas precauções que podem ser tomadas para evitar
descobertas desagradáveis de qual rumo tomou tão boa intencionada ajuda. Além do mais
precisamos nos lembrar sempre de que nosso bolso é nosso guia, devemos doar
sempre aquilo que podemos ou o que não vai nos fazer falta de imediato ou num futuro
próximo.
Podemos relacionar algumas dicas para orientar aqueles que tem um
espírito solidário possam ficar um pouco mais tranqüilos em relação ao destino de
suas doações. Como por exemplo:
1) Caso tenha condições procure doar seu tempo ou dinheiro para mais de uma entidade;
2) Inicialmente colabore sempre com um valor pequeno de seu tempo (voluntariado) ou
dinheiro em intervalos regulares e a medida que você for tomando gosto pela coisa aumente
seu envolvimento com o passar do tempo;
3) Certifique-se de que a entidade tem o CERTIFICADO DE FILANTROPIA, que somente é
renovado pelo Governo Federal mediante a comprovação dos trabalhos sociais realizados
pela entidade;
4) Pergunte se a entidade publica o seu balanço anual na mídia escrita da cidade onde
está sediada;
5) Se for possível para você, seja voluntário(a) por algum tempo na entidade que
pretende ajudar com dinheiro, o objetivo é conhece-la melhor, depois realize a doação;
6) Evite doações por impulso, campanhas e telemarketing das entidades. É você que tem
que escolher a entidade e não ser escolhido por ela.
As entidades formadas por pessoas de má-fé ("pilantras"),
normalmente não buscam visibilidade, não publicam informações e nem recrutam
voluntários, que poderiam ficar bisbilhotando as suas atividades, estão sempre de olho
as verbas governamentais. No Terceiro Setor a única riqueza que existe é a de Espírito
Solidário, desta forma os bandidos tendem a não querer usa-lo para os seus golpes.
ANTES DE DECIDIR, O QUE E AONDE DOAR É PRECISO:
1) APRENDER COM OS ERROS DOS OUTROS
Caso você não tenha experiência no assunto, vá com calma. Afinal,
ninguém quer ver seu tempo e dinheiro escorrer pelo ralo. Primeiro, aproxime-se de quem
já está habituado a fazer doações, amigos, vizinhos ou representantes da comunidade.
Aprenda como essas pessoas executam as contribuições. Tire suas dúvidas, peça dicas,
questione, discuta vantagens e desvantagens, pois esse primeiro contado é muito
importante porque, com ele, você poderá evitar enganos que já foram cometidos pelos
outros.
2) DEFINA A ÁREA QUE MAIS PRECISA DE SUA AJUDA:
O Brasil é muito carente em todos os sentidos e principalmente na
área social. Caso não existissem verdadeiras pessoas abnegadas que estão dentro da
filantropia sempre ajudando uma ou outra entidade, realmente nosso problema social que já
é muito sério, ainda seria muito pior. É costume os governos brasileiros nunca dar
prioridade à área social e assistêncial aos menos afortunados por isso cabe a nós
pessoas comuns tentar reverter este quadro. Todas as áreas que trabalham com assistência
social necessitam de ajuda. Existem centenas de áreas que podem receber nossa ajuda tais
como :
- Crianças e Adolescentes carentes;
- Hospitais de Câncer em todo o país;
- Entidades não governamentais, que protegem o meio ambiente;
- Organizações que trabalham com idosos, hanseníase, deficientes visuais, mentais,
auditivos, presidiários;
- Escolas para pessoas portadoras de algum tipo de deficiência;
- As pastorais da igreja e etc.
Todas essas áreas precisam muito de ajuda, mas você precisa escolher
uma. Essa decisão é resultado de sua própria reflexão. Caso opte por mais de uma área
é preciso ter cuidado para não se perder em meio a vários projetos e objetivos
diferentes.
3) EM QUE REGIÃO DEVE ESTAR LOCALIZADA A ENTIDADE BENEFICIADA?
O Próximo passo é a escolha da área geográfica onde sua entidade
está situada. Muitas pessoas preferem estar bem próximas das entidades que ajudam; a
creche do bairro ou a entidade que abriga deficientes físicos da própria cidade. Nesse
caso, há uma vantagem. Você poderá verificar no dia - a - dia, como suas
contribuições serão aplicadas. Outras pessoas acreditam que projetos em outros estados,
como as famílias atingidas pela seca no Nordeste ou a destruição da Floresta
Amazônica, são mais importantes. Entidades locais ou não, a escolha é sua.
4) MONTE UMA LISTA DAS ENTIDADES CANDIDATAS À DOAÇÃO.
A pesar de ter em mente o perfil da entidade que se pretende apoiar,
esta etapa geralmente é a mais trabalhosa, além do mais é preciso definir qual ou quais
serão ajudadas. Um bom começo é fazer uma lista das entidades que se enquadram no
perfil e nas características traçadas ao por em prática o desejo de doar. Caso não
tenha idéia qual entidade será a beneficiada é bom consultar os conselhos Municipais e
Estaduais. Estes últimos são órgãos, compostos por representantes do governo e pela
população, que acompanham e auxiliam o trabalho de algumas entidades beneficentes.
Normalmente eles tem um amplo material sobre as instituições e suas atividades. No caso
de crianças, há o Conselho da Criança e do Adolescente, que poderá oferecer
informações de valiosas para sua tomada de decisão.
5) A VISITA ÀS INSTITUIÇÕES PODE SER FUNDAMENTAL PARA UMA DECISÃO SEM ARREPENDIMENTOS.
Depois da pesquisa, escolha duas ou três instituições que mais se
adequam aos seus critérios e faça uma visita. Com certeza é muito eficaz verificar
pessoalmente (olho no olho) como funciona, o estado de suas instalações e etc.
É importantíssimo que na ocasião da visita você possa perceber a
real essência do trabalho que é desenvolvido dentro da entidade. Por exemplo, numa
creche, os dirigentes não devem apenas dizer quantas crianças abrigam, mas como o fazem,
quais os projetos para incrementar as atividades ou as metas para a ampliação do prédio
onde está localizada. É preciso ter sempre em mente que o objetivo de uma instituição
não lucrativa é melhorar a qualidade do seu serviço a cada dia independentemente de sua
atividade.
É de bom alvitre ter conhecimento das pessoas que estão a frente da
entidade. Conhecer melhor suas idéias e seus valores, procurando identificar pontos de
convergência entre as idéias dos dirigentes e as suas. Quanto mais contato houver entre
você e os dirigentes, menos surpresas desagradáveis ocorrerão. Não tenha vergonha de
pedir informações de como elas realizam suas atividades.
6) DESENVOLVA UM TRABALHO EM COJUNTO COM A ENTIDADE.
Definido o nome da instituição, é hora de você começar a trabalhar
em parceria. É possível que a entidade apresente um projeto por escrito para o qual
seria destinada a doação. Um roteiro de como serão feitos os investimentos, qual o
retorno que se espera do projeto, prazos etc. Talvez o maior pecado das pessoas e empresas
que fazem doações é que elas não se informam direito sobre o que será feito com o
dinheiro e criam expectativas, muitas vezes, totalmente irrealistas; pois acham que vão
mudar o mundo. Em alguns casos, quando se sabe qual será o projeto beneficiado, é
possível organizar um calendário de doações. Elas podem ser até realizadas em etapas
e não de uma só vez. Além disso, ao ter em mãos um documento fica bem mais fácil
cobrar depois.
7) ESTEJA ATENTO AOS RESULTADOS.
Após ter efetivado a doação é muito importante que você tenha
consciência que seu trabalho não terminou ele está apenas começando. Caso você
desista agora, pode por tudo a perder. Para qualquer doação produza efeitos e torne-se
eficaz, é preciso acompanhar os resultados. Para estar ligado peça informes periódicos
para entidade. Dados como o número de pessoas beneficiadas pelo projeto, o que foi
concluído e o que ainda falta.
Desta forma, você corre menos riscos de ver seu dinheiro e tempo
aplicado em projetos ineficazes. Por exemplo, se você faz uma doação a uma escola
pobre, não quer ver seu dinheiro aplicado na reforma da sala do diretor, mas na compra de
material didático para os alunos.
8) VOCÊ NÃO É O DONO DA BOLA SÓ PORQUE FEZ UMA CONTRIBUIÇÃO À ENTIDADE.
É preciso ter o cuidado para não inverterem-se os papéis. Não é
porque você fez uma doação para determinada entidade que poderá entrar lá e comandar
tudo do seu jeito. Com certeza este é um dos equívocos mais comuns cometidos pelos
colaboradores que acabam se sentindo donos do pedaço. É fundamental que se respeite o
trabalho da instituição e até ajudar com seu conhecimento ou experiência, mas sem
mudar o que já é feito com eficiência.
9) HÁ BENEFÍCIOS FINANCEIROS PARA QUEM FAZ DOAÇÕES?
Os benefícios de se fazer uma doação são irrisórios. Não há um
programa eficaz de estímulo à filantropia no país. Uma das exceções é a cultura.
10) TALVEZ VOCÊ POSSA SER UM SÓCIO CONTRIBUINTE.
Caso não tenha tempo de fazer tudo isso. Sua carga horária no
trabalho e com as atividades em casa lhe consomem todo o seu tempo ? E por conta disto
não possui tempo de acompanhar os resultados de sua boa ação ? Ainda há uma última
saída. Tornar-se um Sócio - Contribuinte. Neste caso você escolhe a entidade e faz
doações periódicas. Nos fundos dos conselhos municipais e estaduais ou da Criança e do
Adolescente, por exemplo, a própria comunidade realiza a fiscalização periódica sobre
o destino das verbas recebidas e empregadas, não sendo assim portanto um acompanhamento
mais intenso.
11) SEJA VOLUNTÁRIO.
Você pode ainda contribuir com entidades beneficentes sem fazer
doações em dinheiro sendo um VOLUNTÁRIO, assim como os AMIGOS DA ESCOLA, por exemplo.
Para isso aproveite seu conhecimento ou experiência em determinada atividade e ponha em
prática.
12) ERROS ELEMENTARES:
- Nunca doe equipamentos ou roupas imprestáveis, remédios vencidos, comida já servida,
móveis carcomidos por cupins e etc.;
- Se for doar livros e tiver algum sem capa, mande reencapar ou cole as folhas soltas;
- Se você pretende ser voluntário nunca diga o que você quer fazer, sempre procure o
Assistente Social ou o responsável pela entidade e pergunte quais os serviços que a
entidade está oferecendo para voluntários, depois decida no que vai trabalhar;
- Quando for fazer uma doação não seja arrogante, doar é um ato de amor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe a nós brasileiros tentar reverter este quadro de miséria institucional enraizado no nosso país, sabendo escolher, representantes sérios para gerir nossos recursos e execrar deste mundo aqueles que não estão dispostos a agir com seriedade e ética profissional. Enquanto isto não acontece precisamos pensar nas pessoas que estão à margem da sociedade em asilos, sofrendo em hospitais públicos, todo tipo de instituições para deficientes, abandonadas nas ruas etc. Fazendo nossa parte em ajudar essas pessoas concretizamos o pensamento que diz: Nascemos sem nada e nada levamos deste mundo. As únicas coisas que ficam de concreto e pelas quais seremos sempre lembrados são as boas ações.
Volta página principal | Maiores informações: |
Volta página anterior | envie Mail para Webmaster da SAC |