Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Domingo - 18-06-2006
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Conversa olho no olho

COLUNA
Leitor

     Não consigo entender porque somente 10% (dez por cento) do universo de pessoas que precisam do Sistema Único de Saúde(SUS) para cirurgias oftalmológicas, principalmente as de catarata, serão ´vistas´ pelo Governo Federal, enquanto 90% serão entregues à sorte para que lhes dê alguma oportunidade de livramento da cegueira. Creio que esta situação só aumenta o grau de deficiência visual do estado brasileiro, seja para enxergar de longe, seja para enxergar de perto, mais de 50 milhões de eleitores, que talvez, nem estejam sabendo, que em uma fila de 100 crianças precisando do SUS para uma cirurgia simples de catarata, apenas dez podem sonhar em ver o mundo como ele é, colorido e divertido. Ao ouvir de um médico com mais de 47 anos de medicina ocular, que ele nunca vivenciara um quadro tão desolador como o atual, quando crianças e idosos continuarão com o cristalino opaco, por restrição de atendimento, volto os meus olhos para todas as manchetes que estamparam nos jornais, os caminhos da desvirtuação do dinheiro do povo e procuro por alguma autoridade capaz de uma conversa olho no olho, para perguntar: Você não está vendo isso? Qual a razão para estancar o fluxo das verbas que vão para os destinos virtuosos? O certo é que estou vendo todos os meses mais de 250 pacientes desprezados no balcão de atendimento do SUS, em uma clínica de olhos, bem equipada e que trata seriamente a verba que recebe do governo e olha, que é um atendimento organizado e humanizado, apesar de ser SUS. Mesmo que eu não encontre os olhos das autoridades para uma fala frente a frente, espero que os olhos que lerem esta mensagem, transformem-se em bocas a pedirem esperança para estes pacientes que deixariam de ser cegos se o Governo Federal voltasse a ´vê-los´. O que custa manter o atendimento da demanda? O que custa a visão de um brasileiro? Quem da família do presidente ou dos seus ministros vai precisar operar pelo SUS? E se perguntássemos aos parentes idosos deles, que têm direito ao plano de saúde, se é bom voltar a enxergar o azul da vida depois de uma cirurgia? Será que o azul e as outras cores não querem ser vistos pelos que dependem do SUS? É louvável o projeto Fome Zero, é muito triste o que estar por vir: o Visão Zero. ´Quem tiver olhos que olhe, quem tiver boca que fale e quem tiver coração que não se cale´.

Paulo Roberto Cândido de Oliveira
Da Sociedade de Assistência aos Cegos

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