Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Sexta-feira - 28-05-2010
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Eles também têm direito de ´ver´
Pela primeira vez no Ceará, crianças com deficiência visual poderão assistir a um espetáculo teatral por meio da audiodescrição, no CCBNB
Teatro é uma arte visual, requer atenção a cada movimento dos
personagens, mudanças de figurino e iluminação. Para os deficientes
visuais, até pouco tempo era impossível assistir a um espetáculo do
tipo. Porém, em Fortaleza, o grupo Bandeira das Artes, formado por
Klístenes Braga, Bruna Alves Leão, Davidson Caldas, Luís Carlos Pedrosa
e Solange Teixeira, abraçou a causa e desde janeiro do ano passado vem
pensando na questão das crianças com esse tipo de deficiência. |
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Hoje, pela primeira vez no Ceará, será apresentada uma peça infantil com
audiodescrição para 100 crianças do Instituto Hélio Góes (pertencente à
Sociedade de Assistência aos Cegos), e da Escola de Ensino Fundamental
Instituto de Cegos. |
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Em seguida, é feito um pré-teste, quando a peça é encenada para que o
narrador avalie se o roteiro está adequado ao ritmo e faça os ajustes
necessários. Durante a apresentação definitiva, a narração, diferente do
cinema, é realizada ao vivo, já que o teatro está sujeito aos
imprevistos e improvisos. "Utilizamos equipamentos semelhantes aos de
tradução simultânea interlinguística. O público fica com fones em um dos
ouvidos. O outro fica livre para ouvir as músicas e os diálogos".
O ideal, explica Klístenes, é que o narrador esteja num local com
isolamento acústico, sem interferências dos sons externos. No caso do
BNB, a transmissão ocorre de dentro da cabine de operação de luz e som.
O texto é tão completo que chega a descrever detalhes da iluminação.
"Apesar de serem cegos de nascença, essas crianças aprendem as cores
através das sensações. Por exemplo, o vermelho está ligado às situações
de perigo; o azul lembra suavidade; o verde relaciona-se com a
ecologia".
Antes do início da peça, ele faz a leitura da sinopse do espetáculo.
"Pensamos em disponibilizar a história na Língua Brasileira de Sinais,
mas, por conta da faixa etária, algumas crianças ainda não foram
alfabetizadas em Braille".
Universo adulto
No ano passado, quatro espetáculos adultos foram apresentados por meio
desse modelo de audiodescrição: "Astigmatismo", "Magno-pirol: encontro
na loucura", "Curral grande" e "Tudo que eu queria te dizer". "Não é
possível falar em reação do público porque eles não têm parâmetros de
comparação. Nunca tinham assistido a uma peça de teatro".
Um passo de cada vez. É assim que Klístenes define o trabalho cujo
desafio maior é produzir, com o tempo, roteiros cada vez melhores que
consigam elucidar a mensagem da peça, atentando para a enorme capacidade
de memorização dos deficientes visuais. "Depois da apresentação, vamos
fazer um teste de recepção com algumas crianças para avaliar a
efetividade do que elaboramos".
De acordo com Viviane Queiroz, coordenadora de Programação Infantil e
Artes Cênicas do CCBNB, os infantis são exibidos no Centro durante os
domingos, mas como essa apresentação de "A Vaca Lelé" é dirigida
especialmente aos deficientes visuais teve de haver mudança na data.
"Eles têm maior dificuldade de sair de casa com a família, então
resolvemos oferecer transporte para trazê-los com a escola durante a
semana". A ideia agora é utilizar a apresentação como teste para fazer
uma agenda regular. "Já temos o Ouvir Dizer, com apresentação de
leituras dramatizadas de textos de autores da literatura brasileira e
universal e disponibilização do acervo para deficientes visuais e
interessados".
Fique por dentro
Infantil premiado
O espetáculo "A Vaca Lelé" está em cartaz há cinco anos. Já foi
contemplado com o Prêmio Eduardo Campos de Teatro, o Prêmio de Melhor
Espetáculo Infantil do Festival de Teatro de Fortaleza e o Prêmio Balaio
Destaques do Ano em sete categorias, incluindo Melhor Espetáculo
Infantil. No elenco, Bruna Alves Leão, Davidson Caldas, Luís Carlos
Pedrosa e Solange Teixeira. Conta a história de Matilde, uma vaquinha
que vivia fugindo do curral, porque era cheia de curiosidades e sonhos:
queria criar asas e voar.
SÍRIA MAPURUNGA
REPÓRTER
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