Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Terça-feira - 11-02-1992
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Transplante de córneas é positivo
Pacientes fazem o 1º teste pós-operatório
O
transplante de córneas em quatro pacientes no Instituto dos Cegos já pode
ser considerado um sucesso. Quem garante é o chefe da equipe médica e também
presidente do Instituto, dr. Waldo Pessoa. A operação foi realizada no
domingo, após a doação dos olhos do casal Valdenúsia Maria de Barros
Moreira, 49 anos, e Francisco Fernandes Noreira, 55 anos, que morreram
tragicamente, assassinados pelo próprio filho. Ontem mesmo, os pacientes
puderam experimentar a visão, durante a troca dos curativos. |
Ontem, os pacientes puderam sentir, emocionados, a visão durante a troca dos curativos após a operação |
Todos eles perderam a visão por problemas
de saúde e estavam na fila de espera do Banco de Córneas de Fortaleza. Dr.
Waldo Pessoa explicou que seus pacientes receberão alta em pouco tempo. "Talvez
dois já saíam hoje (ontem) do Hospital, já que apresentaram uma excelente
recuperação", revelou. Anderson, que ficou cego aos 10 anos, disse que estava
confiante em poder voltar a suas atividades normais.
"Sempre tive esperança de ficar bom", disse. Ele foi
acometido de uma doença rara, a "Steve Johnson", que prejudicou em 100% a sua
visão. Sua operação foi a mais delicada, com o transplante da córnea e também de
uma outra parte do olho de seu doador. Anderson chegou no Instituto dos Cegos
para estudar e se adaptar à sua nova condição, mas sua força de vontade chamou a
atenção dos médicos, que decidiram operá-lo.
POUCO TEMPO
O presidente do Instituto dos Cegos lembrou que ficou
emocionado quando soube da morte do casal. "Fui chamado à meia-noite para
retirar os olhos dos doadores. Às quatro horas da madrugada de domingo já estava
na mesa de operação com o meu primeiro paciente", disse. A operação só terminou
doze horas depois. Participaram ainda da equipe os médicos Timóteo Machado e
Islane Versosa, além dos anestesistas Glauco Cleming e Fernando Santiago.
Dr. Waldo Pessoa ressaltou o gesto da família |
Segundo dr. Waldo Pessoa, após a morte
da pessoa o médico tem um prazo máximo de seis horas para retirar as
córneas, que podem ser conservadas por um período de doze horas em e
antibiótico. "A gente tem pouco tempo para formar a equipe de médicos e
chamar os pacientes. Mas os resultados da operação foram satisfatórios. Eles
já saíram da sala de cirurgia com um pouco de visão", garantiu. Em casos
semelhantes, a recuperação da visão é de 60% a 80%. |