Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Domingo - 24-05-1992
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Má orientação e falta de higiene
Uso indiscriminado de lentes eleva lesões corneanas
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Os médicos estimam que todo os anos
milhares de brasileiros aposentam os óculos para usar lentes de contato, embora
se advirta que o ideal seria usá-las alternadamente para facilitar a oxigenação
dos olhos. Consideradas por muitos como uma invenção revolucionária,
principalmente pelo seu caráter estético, as lentes foram lançadas no Brasil há
44 anos e no inicio atingiam apenas 15% dos pacientes com problemas de visão. A
partir dos anos 70 ela começaram a se popularizar e hoje já chegam a ocupar 85%
deste mercado.
Os números podem agradar aos fabricantes, mas em decorrência
do uso indiscriminado aumenta cada vez mais o número de pessoas com lesões
corneanas. Já está comprovado que as lentes em si não causam problemas, mas a má
orientação e falta de higiene é que proporcionam as infecções. Algumas dessas
infecções podem lesionar o olho de forma irreversível. Pesquisas realizadas nos
Estados Unidos revelam que está aumentando assustadoramente o número de úlceras
de córnea - uma patologia grave que se for tratada a tempo pode culminar com a
perda da visão.
Recentemente foi diagnosticado no Brasil um tipo raro dessa
doença, provocada por um protozoário que vive na água, no ar e no solo, chamado
acanthamoeba. Os especialistas acreditam que as lentes podem funcionar como
espécie de depósito para a ameba, que se desenvolve no olho e penetra na córnea
até corroê-la por completo, culminando com a cegueira. Se diagnosticada
precocemente a doença é tratada com quimioterapia. Em níveis mais avançados
somente o transplante de córnea seria capaz de devolver a visão ao paciente
afetado.
O oftalmologista e diretor da Sociedade de Assistência aos
Cegos (Instituto dos Cegos), Francisco Waldo Pessoa de Almeida revela que já
diagnosticou vários casos de úlcera de córnea, mas felizmente nenhuma era
causada por acanthamoeba e foi possível restabelecer a saúde do paciente.
Ele adverte que tão logo sinta os olhos vermelhos e lacrimejantes, dor, redução
da visibilidade e sensação de areia nos olhos, o usuário de lentes deve procurar
orientação médica. "É possível que esses sintomas estejam indicando a
presença de fungos nas lentes", alerta. Se confirmada a suspeita, as lentes
terão que ser substituídas. Caso contrário, as bactérias podem penetrar em
regiões sensíveis e tornar o tratamento mais complicado.
BIOMICROSCOPIA
As lentes causam alteração da fisiologia do olho que precisa
ser mantido sob controle médico para minimizar as chances de futuras
complicações. Mesmo as lentes sem grau (coloridas) devem ser submetidas às
apreciação de um especialista antes de serem usadas. A cautela é justificável
pelo grau de complexidade que envolve a escolha de determinada lente. Há quem
pense que essa escolha é simples, mas antes de adotá-las o oftalmologista
precisa fazer um exame apurado e medir a curvatura correta das lentes para que
elas não fiquem tocando a córnea. "A adaptação é um ato médico porque existem
patologias que são detectadas apenas na presença de uma lâmpada de fenda, numa
biomicroscopia", ressalta Waldo Pessoa.
Esse exame pode mostrar se o paciente se encontra dentro do
grupo para o qual as lentes são contra indicadas. Portadores glaucoma,
portadores de patologias corneanas ou de pterígio (carnosidade que desenvolvem
ao lado do olho), pacientes com conjuntivite crônica ou alérgica não podem usar
lentes. Nenhuma restrição é feita quanto à idade do paciente, desde que ele seja
lúcido e tenha consciência dos cuidados que demandam o uso de lentes.
Comprar ou adaptar lentes de pessoas leigas no assunto também
é contra-indicado pelos médicos. Se não houver o acompanhamento de um perito que
possua aparelhagem especializada para fazer o exame prévio e acompanhar o
período de adaptação, as lentes podem ser mal indicadas e atingir diretamente a
córnea. Irritação, coceira, mal estar nos olhos muito persistentes são alguns
dos sintomas de que algo pode estar errado.
Para economizar alguns cruzeiros, uma significativa parcela
da população acaba caindo no conto das lentes mais baratas. Algumas óticas, num
desafio aberto ao Conselho Regional de Medicina (CRM), vendem o produto como um
acessório miraculoso e chegam inclusive a se oferecer para fazer a adaptação.
Para Waldo Pessoa, que dirige o Instituo dos Cegos há 25 anos, "esta prática
deveria ser rigorosamente fiscalizada porque pode proporcionar riscos que, na
maioria das vezes, o comprador sequer tem conhecimento".
A cada dia que passa aumenta o números de adeptos às pequenas
maravilhas da ótica moderna. Algumas clinicas e centros de adaptação, como o
dirigido pelo oftalmologistas Wantan Laércio, têm agenda sempre cheia. "Chegamos
a adaptar até 250 pares de lentes de contato por dia", gaba-se Jasna Mary Cabral
Dias irmã de Wantan e uma das coordenadoras do centro. Ela garante que todas os
clientes recebem orientações pormenorizadas de como cuidar das lentes para
evitar danos à saúde.
É em busca dessa saúde mas também da comodidade estética que
a maioria das pessoas que usam lentes têm preferência pelas gelatinosas
(flexíveis) - que abocanham 80%, do mercado e consumidor apesar de serem mais
caras e de manutenção mais trabalhosa. O domínio se deve a sua fácil adaptação.
Apesar dos preços relativamente equivalentes ao custo final de um par de óculos
com armação de primeira, as lentes de contato ainda estão fora do alcance de boa
parte da população. Nem por isso deixaram de ser um ideal perseguido por quem
passou anos e anos sendo alvo de piadinha, em função dos óculos.
Vencido o desafio da adaptação o paciente que pretende usar
lentes deve ultrapassar outro obstáculo, os preços. Dependendo da propriedade,
do material e da procedência, chega-se a cobrar em dólar, pelo câmbio do dia.
Outras custam muito pouco mas tem a desvantagem de serem descartáveis. As
rígidas figuram entre as mais acessíveis financeiramente, mas também contam com
um lado negativo, não se adaptam com facilidade.
Período inicial de adaptação com mal estar
Como não fazem parte da fisiologia do
olhos, as lentes de contato, em 900% dos casos, causam mal estar na fase inicial
de adaptação, especialmente se forem rígidas e não permitirem a passagem de
oxigênio. Nos primeiros dias é natural que o paciente sinta lacrimejamento,
dificuldade de olhar para cima, sensação de areia nos olhos (com coceira),
sensibilidade à luz, ligeira congestão nasal, piscar exagerado, visão turva
tanto para perto quanto para longe, visão turva com óculos mesmo após a remoção
das lentes e aparecimento de halos ou faixas em torno das lentes, especialmente
à noite.
O cuidado e a limpeza são imprescindiveis para retardar o
crescimento de depósitos de proteínas que turvam a lente e irritam os olhos.
Embora nosso organismo esteja preparado para combater uma irritação normal, as
lentes mal cuidadas poderão transmitir infecções que vão desde inflamação e
inchaço das pálpebras, conjuntivite, vermelhidão do olho até a úlcera de córnea.
A limpeza remove camadas de impurezas ou mucosidades que
podem aderir à sua superfície durante o dia, tais como gordura, cosméticos e
microproteinas. Para limpar as lentes rígidas, o usuário deve retira-las (uma de
cada vez) e colocá-las entre o polegar e o indicador, instilar duas gotas de um
produto especial, para limpeza (vendido em clínicas e centros especializados) e
massageá-las suavemente. Em seguida, enxágua-se em água corrente e guarda-se em
estojo próprio com soro fisiológico limpo.
No caso das gelatinosas, inicia-se assepsia colocando as
lentes na palma da mão (separadamente). Instila-se duas gota do produto especial
de limpeza e fricciona-se com o indicador da outra mão. Em seguida enxágua-se
com soro fisiológico e guarda-se em estojo devidamente preparado com soro limpo.
Há ainda recomendações adicionais que ajudam a dar maior longevidade às lentes.
Por exemplo, não esquecer de lavar bem as mãos com água e sabão antes de
retirá-las. De preferência, não se deve usar esmalte nas unhas não se deve usar
esmalte nas unhas (os pigmentos podem danificar as lentes) ou creme hidratante
nas mãos. Também recomenda-se trocar diariamente o liquido do estojo e não usar
colírio sem prescrição médica para não manchar as lentes.
Para evitar o acúmulo de proteínas naturais das lágrimas, que
tornam as lentes opacas, os laboratórios especializados já produzem comprimidos
removedores de proteínas. Diluídos em soro, eles rompem os resíduos que não são
removidos pela solução usual de limpeza e se acumulam na superfície e nos poros
das lentes.
COMO COLOCAR E REMOVER AS LENTES
LENTES RÍGIDAS |
Use o espelho para
auxiliar na colocação da lente. Para retirá-la basta inclinar o rosto
levemente para o lado contrário da lente, abrir bem o olho e piscar com
força para a lente sair. |
LENTES GELATINOSAS |
Tabela de preços |
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TIPO | PREÇO À VISTA (Cr$) |
GELATINOSAS | |
Gelatinosas de uso diário | Cr$ 220.000,00 |
Gelatinosa de uso prolongado | Cr$ 310.000,00 |
W-40 | Cr$ 220.000,00 |
Gelatinosa WAH | Cr$ 450.000,00 |
Gelatinosa Tórica | Cr$ 590.000,00 |
Gelatinosa Bifocal | Cr$ 390.000,00 |
Gelatinosa colorida nacional | Cr$ 550.000,00 |
Gelatinosa colorida importada (paralelo/dia) | US$ 280.00 |
Optima 38 | Cr$ 260.000,00 |
DESCARTÁVEIS | |
Bausch & Lomb com 26 lentes (negativas) | Cr$ 450.000,00 |
Bausch & Lomb - Par | Cr$ 45.000.00 |
Johnson & Johnson com 6 lentes (neg./pos.) | Cr$ 175.000,00 |
Johnson e Johnson - Par | Cr$ 45.000,00 |
RÍGIDAS | |
Convencionais | Cr$ 200.000,00 |
Siliconadas de uso diário | Cr$ 260.000,00 |
Siliconadas DK-56 | Cr$ 325.000,00 |
Fluocarbonadas DK - 71 | Cr$ 350.000,00 |
Fluocarbonadas DK - 92 | Cr$ 430.000,00 |
Envision | Cr$ 350.000,00 |
ACESSÓRIOS | |
Asseptizador elétrico | Cr$ 60.000,00 |
Estojo para lentes | Cr$ 10.000.00 |
Renú (produto para limpeza de lentes) | Cr$ 22.000,00 |
Fonte: Fonte Departamento de Lentes de Contato e Cirurgia da Clínica Wantan Laércio |
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