Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Domingo - 28-07-1996
Fortaleza - Ceará - Brasil
60% dos brasileiros acima dos 55 anos têm catarata
Sociedade de Assistência aos Cegos realiza cirurgias gratuitas desde maio em 100 pacientes
O conselho deliberativo da Sociedade de assistência aos Cegos decidiu fazer, gratuitamente, cirurgia em 100 portadores de catarata com idade acima de 55 anos. A decisão foi tomada como forma de continuar os benefícios da Campanha nacional de Prevenção à Cegueira e Reabilitação Visual do Idoso promovida pelo Ministério da Saúde e Conselho Brasileiro de Oftalmologia em maio passado. Bancados com recursos próprios da entidade, os procedimentos serão destinados pessoas comprovadamente carentes. O diretor de saúde da Sociedade, Valdo Pessoa, diz que serão investidos mais de R$ 120 mil nas cirurgias. Dados do Ministério da Saúde indicam que 60% da população brasileira acima de 55 anos sofrem com catarata. A doença é responsável por 350 mil casos de cegueira no País. A cirurgia poderia reverter 95% dos casos. Segundo explica um dos conselheiros da Sociedade de Assistência aos cegos, oftalmologista José Bezerra de Arruda filho, a catarata é conseqüência do envelhecimento. Todas as pessoas apresentarão a doença algum dia, após os 55 anos. Alguns poderão apresentar mais cedo, outros entre 65 e 80 anos. |
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A assistente social da Sociedade, Socorro Alencar,
diz que já estão cadastradas mais 70 pessoas acima de 55 anos. A equipe responsável
pelo trabalho é formada por cerca de 30 médicos voluntários, entre oftalmologistas e
anestesistas. As idosas do Lar de Nazaré foram escolhidas para serem as primeiras
beneficiadas. As cirurgias deverão começar a partir do próximo dia 20. Os laboratórios
Clementino Fraga e São Paulo também entraram com trabalho voluntário para realização
dos exames pré-operatórios. A presidente da sociedade, Josélia Almeida, diz que a
entidade sempre fez campanhas de prevenção à cegueira, especialmente entre crianças.
Esta é a primeira vez que o público-alvo são os idosos.
O custo médio de uma cirurgia do tipo está em torno de R$ 1.200,00,
segundo estimativa de Arruda Filho. A operação é simples, não ultrapassa os 45
minutos. O avanço da tecnologia nos últimos 15 anos possibilitou que o procedimento seja
feito em nível ambulatorial. Após todos os exames necessários, o paciente chega pela
manhã e, quatro horas após a cirurgia, já pode retomar à casa. O acompanhamento será
feito nas consultas médicas. Arruda Filho explica que a cirurgia ficou mais simples,
porque hoje não é mais retirado todo o cristalino do olho como era feito antigamente, o
que forçava o paciente a usar lentes grossas, as chamadas "fundos de garrafa".
Atualmente, a cápsula posterior do cristalino continua no olho, que também recebe uma
lente intra-ocular, o cristalino artificial.
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Arruda Filho observa que o nome da doença não é em vão. Refere-se às quedas d'água nas cachoeiras, porque o olho com catarata passa a ficar com os tecidos do cristalino mais hidratados, o que compromete a transparência e a capacidade de visão. O cristalino e a córnea possuem um dos tecidos menos hidratados do organismo. Isto que garante a transparência da visão. Arruda Filho compara o olho a uma câmara fotográfica, com lentes e filme. No caso do organismo, o sistema das lentes é formado pela córnea (parte mais anterior do olho) e o cristalino (interior do olho), sendo a retina o filme. Essas "lentes" captam a imagem e "impressionam" a retina. Os nervos ópticos conduzem-na ao cérebro, tornando-a consciente. Para o indivíduo enxergar bem, é imprescindível que o "sistema de lentes" esteja limpo, claro. |
Com o envelhecimento do organismo, é inevitável a
manifestação da catarata do tipo senil. Os tecidos perdem a capacidade de ficar pouco
hidratados. "Com a velhice, os tecidos sofrem alterações físico-químicas, o que
provoca a perda da transparência da córnea e do cristalino'', diz Arruda Filho. Os raios
ultravioletas do sol contribuem também para essas alterações. Um dos sintomas da
catarata é o surgimento da miopia em alguns pacientes. A doença pode se manifestar
também em crianças, no tipo congênito. O tratamento é o mesmo, sendo recomendada a
cirurgia para introdução do cristalino artificial somente a partir dos 6 anos. Arruda
Filho diz, no entanto, que dependerá do caso.
Ele observa que o aumento da incidência da doença deverá ser
proporcional à ampliação no atendimento. Antigamente, a cirurgia só era feita quando o
paciente estava com a visão totalmente comprometida. Hoje, o próprio paciente já
procura o médico ao perceber os primeiros sintomas. A cirurgia é feita com mais
antecedência e segurança. Mesmo assim, ele reconhece que a demanda é bem maior que os
recursos públicos do SUS destinados ao tratamento.
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