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Jornal O ESTADO
Quinta-feira - 21-12-2006
Fortaleza - Ceará - Brasil
Bandidos invadem a Fortaleza


Foto do Jornal O ESTADO
Luiz Câncio
Pacto de Cooperação

    Nascida às margens do riacho Pajeú, com seu embrião no forte de Nossa Senhora da Assunção, a nossa Fortaleza não é mais tão bem guardada e tão bem protegida como antigamente. Com origem em nossas favelas ou em favelas de outras metrópoles, os bandidos invadiram nossa cidade como um enxame de abelhas em um pomar florido. O que fazer, e quem são os culpados por tamanho descaso?

    Na verdade o crime, a droga, a prostituição são conseqüências de várias situações inerentes à sobrevivência humana. O ser humano não nasceu para ficar sem ocupações, sem atividades próprias da raça. No entanto, uma situação conjuntural muito forte nos envolve de tamanha forma que não nos traz nenhuma outra opção, senão a luta desumana por nossa sobrevivência, o que muitas vezes empurra o ser humano a cometer atos que fogem ao mais lógico dos raciocínios. Não existem fórmulas para garrotear tal situação.

    Porém, são necessárias medidas duras que venham de encontro ao atendimento dos anseios básicos e essenciais das classes menos favorecidas, denominadas políticas públicas de assistência social integral. O paliativo não deve existir em tal situação. A maior dignidade do ser humano é a sua ocupação laboral, exercida pela sua inteligência, pelo seu compromisso e atitude de bem desenvolver ações profissionais diversas. No entanto, não existe no País uma política de empregabilidade destas classes.

    Ao longo da vida de nossos jovens não lhes são propiciadas oportunidades e chances para desenvolver o potencial contido em cada indivíduo, que já traz dentro de si o sonho e o desejo de ocupar o seu espaço de destaque na sociedade. Muitos, por falta de uma estrutura familiar, por influência dos meios de comunicação, pelo despreparo das escolas e tantas outras mazelas, enveredam pelo caminho da criminalidade.

    A cada dia os jornais trazem, em um número cada vez mais crescente, notícias sobre os mais bárbaros crimes. Muitos, chegando até a provocar comoção social diante da frieza com os quais são cometidos.

    Fortaleza tinha, até poucos dias, dois olhos que enxergavam muito além do que se podia imaginar. Dois olhos que enxergavam pelos outros e viam nos outros o seu principal alvo de benevolência. Esses dois olhos foram fechados pela crueldade e pela maldade das vítimas de uma sociedade capitalista e cruel, que não enxerga sequer um palmo além do seu nariz. O nosso querido amigo e companheiro de luta, dr. Waldo Pessoa, dedicou sua vida inteira a uma causa muito nobre e, o universo de pessoas atendidas pelas suas obras durante tantos anos de vida é tão grande que, pode até ter acontecido o fato de que alguém da família de um dos seus assassinos tenha sido agraciado, em algum momento, e tenha saído da escuridão para enxergar, ou até sem enxergar tenha tido uma oportunidade de trabalho pelo fato de ter sido preparado para o mercado de trabalho através da tão vigorosa Sociedade de Assistência aos Cegos, sob a tutela dessa figura que, jamais será esquecida pela Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.

    O bandido não escolhe a profissão, a raça, a cor e o sexo das suas vítimas, nem a forma de como executar, apenas segue o instinto inescrupuloso de ceifar sua presa pelos simples fato de usurpar dela os bens que não fora capaz de conquistar com dignidade.

    A nossa Fortaleza precisa voltar a ser forte.


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