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Domingo - 30-07-2000

Fortaleza - Ceará - Brasil
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GLAUCOMA
Prevenção é consulta regular ao oftalmologista


Com registros que remontam há mais de dois mil anos, o glaucoma é hoje a segunda maior causa de cegueira no mundo. Dentre os diversos tipos de glaucoma, o mais comum é o de ângulo aberto, que não demonstra sintomas, ocorrendo sorrateiramente e sendo descoberto apenas pela oftalmologista.

    Há mais de dois mil anos o homem já se deu conta da existência do glaucoma. "Mas a identificação e o conhecimento dele passou a ser melhor com o oftalmoscópio, aparelho de uso rotineiro que foi descoberto na segunda metade do século XIX, em que se conheceu que havia um comprometimento grande do nervo ótico nas pessoas com pressão alta do olho", diz o oftalmologista Fernando Monte. Somente mais tarde é que se descobriu uma forma de medir a pressão do olho e se conhecer a razão do desgaste do nervo ótico.

    Hoje, já é a segunda maior causa de cegueira no mundo. "Nos países subdesenvolvidos, a primeira causa é a catarata e, nos desenvolvidos, é a degeneração macular relacionada à idade", esclarece a oftalmologista Islane Castro Verçosa, do Hospital Geral de Fortaleza, HGF, e presidente da Sociedade de Oftalmologia do Ceará.

Foto do Jornal O POVO
A médica Islane
Verçosa é presidente da
Sociedade de
Oftalmologia do Ceará

    Segundo Islane, existem mais de 30 formas de glaucoma e somente o oftalmologista é que poderá detectar. Dentre as várias formas, 90% são do tipo glaucoma crônico de ângulo aberto, primário, tendo como característica principal não apresentar sintomas. É o que diz a oftalmologista Heloisa Vieira, também do HGF. "O paciente pode ficar vários anos com a doença e só descobrir numa fase mais tardia, quando o nervo ótico já foi quase totalmente afetado", ressalta Heloisa.

    Como a dor, a baixa de visão e o olho vermelho são as principais razões de ida ao oftalmologista, o nervo ótico pode estar sofrendo e a pessoa nem perceber. "Só vai manifestar sintomas nas fases finais, por isso é tão importante a visita regular ao oftalmologista para a realização de exames", diz Heloisa.

    A lesão por glaucoma, que pode trazer como conseqüência a cegueira, é irreversível. "O tecido do nervo ótico que foi lesado não se regenera, nem com cirurgia, nem com medicamento", assegura Heloisa. Outro glaucoma primário, causado pelo próprio funcionamento do olho, é o de ângulo fechado. Conforme o oftalmologista Valter Justa, é mais raro, acomete mais mulheres acima de 50 anos e vem em crises de dor ocular, visão borrada, náuseas e vômito. A pessoa, em geral, chega a passar pelo neurologista e clínico geral, porque o diagnóstico se confunde.

    Já os glaucomas secundários se dão por alterações na posição, na forma ou no tamanho do cristalino (lente interna do olho). Conforme Justa, são influências intra-oculares como traumatismos, inflamações ou por conta de medicamentos. "Há vários jovens cegos por conta de colírios com corticóide, usados indevidamente ou sem prescrição médica, para aliviar desconforto de lentes de contato", alerta Justa.

    Há ainda o glaucoma congênito, devido a uma má formação, que é identificado muito precocemente nos bebês. "O tratamento se torna mais difícil por depender do acesso aos exames através dos pais, que podem trazer já num estado bastante avançado", ressalta Monte.

    Nesses casos, os sinais freqüentes são: olho grande, lacrimejamento, fotofobia, aversão à luz. "Quando detectado precocemente, é possível controlar a pressão do olho mas, mesmo com a cirurgia, essa criança vai ter de ser acompanhada sempre. São necessárias observação e sensibilidade dos pais para levar a criança para fazer um exame", diz Islane, que há nove anos faz prioritariamente cirurgias de bebês na Sociedade de Assistência aos Cegos. A entidade oferece serviços de detecção e tratamento de glaucoma através de clínica e hospital. (Ana Cecília Mesquita)

Tratamento para controle

    Como o sucesso do tratamento depende do diagnóstico precoce, cada vez mais surgem equipamentos para essa fase investigativa. Na população em geral, inicialmente, devem ser medidas a pressão intra-ocular, a acuidade visual (a visão) e feito o exame de fundo do olho. São os exames de rastreamento do glaucoma, que podem ser feitos nos serviços públicos. A partir desses exames, segundo a oftalmologista Heloisa Vieira, pode-se solicitar outros se houver suspeita, ou porque houve aumento da pressão ou da escavação do nervo ótico.

    O exame do campo visual também é prioritário, não somente para diagnóstico mas sobretudo para acompanhamento das possíveis alterações das fibras nervosas da retina. A gonioscopia é o exame do ângulo por onde passa o humor aqüoso, líquido do olho. Na retinografia, se documenta o estado do nervo ótico.

    "Mas a última palavra em diagnóstico precoce é a análise de fibras nervosas por laser polarimetria", diz o oftalmologista Valter Justa. Equipamento precioso que associa o laser ao computador para medir a espessura da camada nervosa da retina, local em que se originam lesões do glaucoma. O procedimento é rápido, cerca de três minutos, indolor e não depende de uma atenção extrema do paciente como no teste de campo visual.

    Depois do diagnóstico, o tratamento pode ser clínico, cirúrgico ou os dois. "Nos glaucomas secundários, deve-se remover o agente causal, como por exemplo, o colírio com corticóide", afirma Justa. O tratamento vai ser de acordo com a doença que está causando o glaucoma, segundo Heloisa. Nos casos congênitos, conforme Justa, deve ser feita uma cirurgia com urgência, sob pena de a criança perder a visão parcial ou total.

    Nos glaucomas primários, a saída é buscada através de colírios com a finalidade de reduzir a pressão ocular ou de agir nas estruturas intra-oculares doentes ou mal posicionadas. "Quando os medicamentos não funcionam, o paciente não seguiu o tratamento recomendado por razões pessoais ou financeiras, tenta-se o tratamento cirúrgico: a laser ou convencional", complementa Justa.

    A terapia com laser abre uma espécie de "ralo" para drenar o humor aqüoso, em sessões rápidas e indolores. Quando é necessária uma microcirurgia, tenta-se criar um novo canal de drenagem, com anestesia local, em cerca de 15 a 30 minutos. "As duas têm suas indicações, seus riscos e benefícios", diz Heloisa. Os oftalmologistas avisam que mesmo os pacientes operados devem fazer o acompanhamento médico periódico para checar se o problema não está voltando. (ACM)

Para Guardar

Saiba mais sobre o glaucoma:
* Existem várias formas de glaucoma. Raramente dão sintomas nas fases iniciais da doença
* Descendentes de glaucomatosos e pessoas acima de 35 anos de idade são mais predispostos, embora a doença possa acometer qualquer pessoa
* Certos medicamentos, como os colírios de corticóide, podem provocar glaucoma. Nunca se auto-medique!
* O tratamento da doença é feito quase sempre com colírios. Seu oftalmologista selecionará o mais apropriado para seu caso
* Um medicamento que, hoje, funciona bem, poderá perder seu efeito com o passar do tempo. Portanto, sempre retorne ao oftalmologista na época marcada
* Visitas periódicas ao oftalmologista são fundamentais. Em geral, a cada três ou quatro meses, segundo a necessidade * Em certos casos, é indicada a cirurgia com laser ou pela forma convencional
* A cegueira pelo glaucoma é irreversível. Portanto, a melhor conduta é preveni-la

Diagnóstico e controle:
* Exames regulares de vista feitos por seu oftalmologista constituem a melhor maneira de detectar o glaucoma. É o médico de olhos quem sabe tratar o glaucoma. Durante um exame completo e indolor, seu oftalmologista:
* Mede a pressão intra-ocular (tonometria)
* Analisa a história clínica: dores oculares, uso de certos medicamentos
* Investiga a história familiar (antecedentes familiares de glaucoma)
* Inspeciona o ângulo de drenagem de seu olho (gonioscopia)
* Avalia qualquer lesão ao nervo ótico (oftalmoscopia)
* Testa o campo visual de cada olho (perimetria), sendo necessária perda de 50% das fibras da retina para surgirem alterações
* Com a retinografia, documenta-se e acompanha o estado do nervo ótico
* A laser polarimetria da camada de fibras nervosas da retina é o método mais recente
* Alguns desses exames talvez não sejam necessários para todos os indivíduos. Você pode precisar repetir estes testes regularmente para determinar se a lesão do glaucoma está aumentando com o passar do tempo

Fonte Centro Visual do Ceará e Academia Americana de Oftalmologia

DICIONÁRIO
* Catarata - doença que diminui a visão ao tornar opaca e esbranquiçada a pupila, deixando o cristalino (lente transparente que fica atrás da pupila) com uma coloração leitosa. É comum acontecer acima dos 60 anos, mas pode ocorrer antes. Nem todas as cataratas precisam ser operadas. Mas há uma forma que atinge recém-nascidos, a catarata congênita, em que deve ser feita a cirurgia o mais cedo possível
* Degeneração senil da mácula - afeta a parte central da retina (tecido nervoso sensível à luz). Toda a retina contribui para a visão, mas somente a mácula define uma visão nítida, que permite ver detalhes. Se sua visão fica distorcida ou com mancha escura no centro, faça logo um exame ocular
* Diabetes - doença causada pelo aumento de açúcar no sangue e que pode afetar várias partes do organismo. Os olhos podem ser atingidos de várias maneiras, podendo causar cegueira, como através da formação de catarata. Mas essas alterações podem ser evitadas com o controle da doença pelo médico clínico e pelo oftalmologista
* Retinopatia - dano à retina (parte sensível à luz), causado por diversas doenças e alterações dos vasos sanguíneos. É uma das complicações mais sérias do tipo diabetes mellitus avançado, mas pode ser tratada se detectada cedo

Fonte: Manual da Boa Visão (Núcleo de Prevenção à Cegueira) e Guia de Medicina e Saúde da Família (Editora Bloch)


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