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Terça-feira - 05-12-2000

Fortaleza - Ceará - Brasil
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Rodin nas pontas dos dedos


As obras de Rodin só podem ser tocadas pelos deficientes visuais, que ontem aproveitaram a visitação gratuita para correr as mãos por cada detalhe das esculturas.
Fortaleza

Os olhos não vêem, mas através do tato, a mente desenha todas as formas das esculturas de Auguste Rodin. Na tarde de ontem, 45 jovens do Instituto dos Cegos e Sociedade de Assistência aos Cegos visitaram a exposição ``Auguste Rodin - Esculturas e Fotografias'', no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Todas as segundas-feiras, o museu abre a exposição exclusivamente para portadores de necessidades especiais, para que também eles possam admirar e se sensibilizar com a arte.

Foto do Jornal O POVO

Sensibilidade foi o sentimento mais aflorado durante a visitação. As obras não podem ser tocadas por qualquer pessoa, apenas pelos deficientes visuais, que ontem puderam com exclusividade correr as mãos por cada detalhe da obra de Rodin. Elisângela Rodrigues, 13, além da deficiência visual é portadora de uma deficiência motora, mas não foi impedida de admirar as obras de Auguste Rodin. ``Estas esculturas são muito importantes, vieram de longe e eu estou feliz em poder estar aqui. Gostei bastante da obra de Vênus (Toalete de Vênus e Andrômeda) porque a história é linda, com final feliz'', diz.

Foto do Jornal O POVO
Escultura de Auguste Rodin é tocada
por alunos do Instituto dos Cegos:
Privilégio exclusivo para quem não pode ver

Para apreciar a escultura de Eva, a avó de Elisângela, Maria Furtado, não hesitou em colocá-la nos braços, deixando-a tocar em cada detalhe. ``Já sei que vou ter assunto para toda a semana, pois ela gosta muito desses passeios, ainda mais numa exposição importante como essa'', afirma Maria, mostrando estar satisfeita em poder compartilhar com a neta, que é registrada como sua filha, o momento de felicidade.

Adauto Filho, 8, e sua mãe, Maria Jozenice Silva, também não escondiam o prazer de participar da exposição. ``Sinto até vontade de chorar, pois em outra ocasião meu filho nunca poderia visitar a obra desse escultor tão famoso. Fico emocionada em saber que ele não vê, mas percebe coisas que eu vendo não tinha percebido'', diz Jozenice.

A coordenadora do Instituto dos Cegos, Rutilene Sousa, explica que o que falta no sentido da visão, sobra no do tato. E com isso eles conseguem apreciar uma escultura com perfeição, identificando cada parte e conseguindo desenhar a obra em suas mentes. "É muito positivo fazê-los participar de exposições e diversos eventos importantes, pois eles ficam eufóricos e mostram toda uma sensibilidade que muitos não têm'', diz Rutilene.

Nova experiência para guias

Todas as segundas-feiras, o Museu de Arte Contemporânea abre a exposição ``Auguste Rodin - Esculturas e Fotografias'' para a visitação gratuita de portadores de deficiências. As visitas em grupo devem ser agendadas por meio do telefone 0800 850040, pois terão um guia para orientar e descrever a história de cada obra. Quem não estiver em grupo, também pode participar, bastando ir ao local a partir das 14 horas.

Além dos portadores de deficiência visual, ontem foi dia de visitação também para os deficientes auditivos assistidos pelo Instituto Cearense de Educação de Surdos-Mudos e mães e filhos do Instituto de Prevenção à Desnutrição e à Excepcionalidade (Iprede). Foram quase 200 pessoas visitando as obras, divididas em pequenos grupos, cada um visitando por quase 40 minutos a exposição.

Foto do Jornal O POVO
Guia fala de obras para deficientes
visuais: Público sensível

Cada obra visitada atiçava a curiosidade e merecia comentário por parte dos visitantes. Através da linguagem dos gestos, os portadores de deficiência auditiva tentavam se comunicar com os guias e questionar sobre as obras. O dia de ontem foi importante para os portadores de necessidades especiais, mas também para os guias, que demonstraram prazer em falar de arte para um público bastante sensível.


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