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Jornal O POVO
Sexta-feira - 15-12-2000

Fortaleza - Ceará - Brasil
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INFÂNCIA
"Sílvio Santos" conhece o mar


A admiração e a alegria estampadas no brilho do olho e no sorriso dos lábios. Foi a reação do garoto Jucildo Domingos, 13, ao ver o mar pela primeira vez. Ele ficou quieto, por algumas horas, debruçado na grade de proteção do Ponte dos Ingleses, observando os surfistas, mas não se arriscou a entrar no mar. Tímido, ele apenas fez um sinal negativo com a cabeça para dizer que não queria pisar na areia.

Jucildo foi o garoto que O POVO flagrou trabalhando no lixão de Barbalha, no mês passado, e que deu início à série de reportagens sobre o trabalho infantil no Ceará. Jucildo, que na época mentiu, dizendo se chamar ``Sílvio Santos'', sofreu um acidente há um ano quando trabalhava na roça. Outro garoto atirou com uma espingarda em sua direção e estilhaços de chumbo atingiram seu olho esquerdo, tirando-lhe a visão.

Foto do Jornal O POVO
Jucildo, na Ponte dos Ingleses

Mas o garoto veio a Fortaleza não só para conhecer o mar. É que o médico Francisco Waldo Pessoa de Almeida, da Sociedade de Assistência aos Cegos, se interessou pelo caso e o consultou na sua clínica, na Unidade Oftalmológica Iêda Otoch Baquit. O diagnóstico foi rápido: o garoto não voltará a enxergar com o olho direito, mas deve colocar uma prótese, após um estudo radiológico para o médico avaliar se ficaram fragmentos do tiro.

De acordo com Waldo Pessoa, o olho esquerdo de Jucildo, cuja visão é perfeita, pode até ser prejudicado se não for feita a cirurgia. Ele mesmo fará a limpeza da região ocular e a colocação da prótese, gratuitamente, após os exames.

Jucildo Domingos foi recebido, em Fortaleza, pelas freiras da Casa Menino Jesus, que hospeda crianças carentes portadoras de câncer. São meninos e meninas carentes do interior do Estado que fazem tratamento no Hospital Infantil Albert Sabin e não têm onde se hospedar na Capital.

Após a primeira consulta com o oftalmologista, Jucildo retornou a Barbalha onde será providenciada a nova radiografia da área ocular atingida. O garoto deve se submeter à cirurgia antes do início do período letivo de 2001. É que ele retorna a escola e diz que já foi matriculado pela mãe Maria de Fátima Vieira. Vai cursar a primeira série do Ensino Fundamental porque ainda não sabe ler, nem escrever.

O garoto não voltou mais para o lixão e deve ser inscrito no Programa de Renda Mínima mantido pelas secretarias de Educação e Ação Social de Barbalha, para atender às crianças que trabalham em atividades de risco. Além do lixão, há em Barbalha meninos e meninas explorados em olarias e no corte da cana-de-açúcar. Este ano, o município foi engajado no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e vai atender a 100 crianças.


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