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Jornal O POVO
Sexta-feira - 29-12-2000

Fortaleza - Ceará - Brasil
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Rodin
Memória da pele


Ethel de Paula
Da editoria do Vida & Arte

A eles foi dado lê-las com as mãos. No último dia 04, alunos do Instituto dos Cegos fizeram o que todos têm vontade: apalpar as criaturas em bronze moldadas por Auguste Rodin, à mostra no Centro Dragão do Mar. Ao retornar para casa, Landalberto de Almeida reproduziu em argila sua impressão tátil de O Pensador.

Foto do Jornal O POVO

Ratifique-se o favoritismo, à revelia da ausência de visão. Queixo sobre uma das mãos, o moço em bronze, corpulento, ensimesmado, mundialmente conhecido como O Pensador, foi quem mais conheceu as digitais do grupo de alunos do Instituto dos Cegos que, no último dia 04, entusiasmou-se diante da exposição Auguste Rodin - Esculturas e Fotografias, em cartaz até o próximo dia 02 de janeiro de 2001, no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar. Em casa, às escuras, Landalberto de Almeida, 16, reproduziu em argila a mais incensada criatura do escultor francês. "Foi a que passei mais tempo pegando. Gostei do jeito que ele tá sentado, da posição. Fiquei querendo saber o que ele tava pensando naquela hora. Mas não sabia nem nada sobre o Rodin, nem sei ainda direito, só que a escultura veio da França e é famosa. Quando saí de lá já me deu vontade de fazer um igual. Aí fiz", simplificou.

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Acima, O Pensador, de Landalberto de Almeida, escultura em argila criada a partir de cantato tátil. Ao lado, o candidato a escultor aprecia com as mãos a sinuosidade e a textura da Musa de Whistler, durante a visita que os alunos do Instituto dos Cegos fizeram à exposição Auguste Rodin - Esculturas e  Fotografias, em cartaz até o dia 02 de janeiro de 2001, no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão  do Mar

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Para tanto, o aluno do Instituto dos Cegos não passou por nenhuma aula de modelagem. "Aprendi só. Desde menino que brinco com massinha de modelar. Há uns quatro anos teve uma festa dos médicos lá no Instituto aí eu fiz 43 esculturas diferentes e dei de presente para cada um deles. Tirei pelo ambiente da sala de cirurgia: uns deitados na maca, outros na sala de exame e por aí vai. Parece que gostaram", vibrou. O Pensador de Landalberto também já tem dono. O garoto ofertou a escultura ao diretor-presidente do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Antônio de Pádua Araújo. "Ele parece que gostou porque disse até que ia conseguir me colocar em um curso pra eu me aperfeiçoar. Tô esperando. Meu sonho é que um dia eu possa ensinar outras pessoas a modelar e quem sabe até fazer uma exposição", projetou.

Hormônios em alta, sentidos em alerta. Para Landalberto, a relação com o mundo vai bem além do contato tátil. O aprendiz de escultor também aprecia música e já aprendeu por si só a tocar teclado. "De tanto eu aperrear a minha mãe, ela comprou um teclado de segunda mão e aquelas revistas que ensinam as notas. No Instituto também tem uns instrumentos e eu mais uns colegas formamos uma banda há pouco tempo. Só que ainda não deixam a gente tocar fora, só nas festas de lá mesmo", lamentou, arriscando uma justificativa. "Gosto mais da música, mas dizem que tenho mais jeito pra escultura". Cego desde os 9 anos de idade - perdeu um olho brincando com uma bomba de São João e o outro em conseqüência de uma pedrada de baladeira -, o artista em potencial não se rende a lamúrias. "Acho que esse dom não tem nada a ver com visão. Se eu enxergasse, não faria nada disso melhor do que faço hoje. Não preciso ver para modelar ou tocar. Isso vem de dentro para fora", sustentou.

No Instituto dos Cegos, Landalberto aprendeu a ler, escrever, ir e vir sozinho. Através da instituição, também passou por dois transplantes de córneas, ambos mal sucedidos. Desde então, sente dores e ardor nos olhos, passa por exames oftalmológicos sistemáticos e recebe medicamentos afins gratuitamente. Mas teme o futuro. "A assistente social de lá disse que os remédios iam ser cortados. Minha família não tem dinheiro para comprar e aí não sei como vai ficar", revelou. Em entrevista por telefone ao Vida & Arte, o diretor de saúde do Instituto dos Cegos, médico Valdo Pessoa, descartou o perigo, comprometendo-se: "Ele vai continuar recebendo os medicamentos gratuitamente, como sempre".


ESTRÉIAS

Em O Implacável, que estréia este final de semana, Sylvester Stallone vive o solitário Jack Carter. De volta à Seattle, sua cidade natal, para o funeral do irmão, ele resolve investigar as causas do acidente que o matou e, conseqüentemente, parte para uma sangrenta vingança. Mas o retorno de Jack é, ao mesmo tempo, a chance de consertar os erros do passado. Remake de Carter, o Vingador, fita inglesa de 1971, dirigida por Mike Hodges, modernizada e desta vez com violência explícita.

Dominação marca a estréia na direção do polonês Janusz Kaminski - autodidata e o diretor de fotografia preferido de Steven Spielberg. Na fita, Winona Ryder vive uma carola especialista em exorcismo. A estréia nacional de Dominação é parte das tentativas de recuperar a bilheteria que não foi bem nos Estados Unidos.


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