Jornal O POVO
Sábado - 30-11-2002
Fortaleza - Ceará - Brasil
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CLUBINHO
Alegria que vem da bricadeira
Ana Mary C. Cavalcante (da redação)
Certa vez, li um livro chamado Como Nasceu a Alegria (Editora Paullus, escrito por Rubem Alves). A história conta a vida de uma florinha que, ao nascer, cortou uma de suas pétalas num espinho. A florinha nem ligou e vivia muito feliz com sua pétala partida. Ela não doía. Era uma pétala macia. Era amiga, escreve Rubem Alves.
Até que ela começou a
notar que as outras flore as olhavam com olhos espantados. E percebeu, então, que era
diferente, continua o autor da história. E ela foi ficando triste, triste...
Não por causa da sua pétala rachada, mas por causa dos olhos das outras flores. |
As flores belas e
infelizes não tinham perfume, porque nunca riam. Quando a florinha sorriu, pela primeira
vez, o perfume bom da flor apareceu. O perfume é o sorriso da flor. E o perfume foi
chamando bichos e mais bichos... Vieram as abelhas... Vieram os beija-flores... Vieram as
borboletas... Vieram as crianças. Um a um, beijaram a única flor perfumada, a flor que
sabia sorrir. E sentiram, pela primeira vez, que a florinha, lá dentro do seu sorriso,
era doce, virava mel... Esta é a estória do nascimento da alegria. |
Um jeito diferente de ver o mundo
Eu tinha uma curiosidade: será que as
crianças que não podem ver gostam de livros? Fiquei curiosa porque, desde criança, eu
gosto de ler. Mesmo quando não entendia o que diziam as letras, ficava horas e horas
olhando as figuras.
A curiosidade me levou à Sociedade de Assistência aos
Cegos. E eu tive uma bela surpresa: a biblioteca, assim como o parquinho de diversões, é
o lugar preferido da turma. Desde o maternalzinho, eles vêm aqui, diz a
professora Andreia Barros do Carmo.
Paulo César da Silva
Lima, sete anos, de tanto ler Branca de Neve e os Sete Anões, sabe de cor a história.
Já Rafael Oliveira, nove anos, foi o caçador na peça que transformou Chapeuzinho
Vermelho em tetro. Ora, houve a maior festa! Em setembro, aconteceu a Semana Cultural e as
crianças se vestiram de Cuca, Dona Benta, Saci, Lobo Mau... A biblioteca também é
espaço para dança, música e teatro, ensina tia Andreia. |
Aprendendo com as diferenças
Para ensinar, é preciso
aprender. E não é só o professor que deve vira aluno. Muitos pais não têm
conhecimento do braille. Aqui, são oferecidos cursos para os pais, convida Vicente
Matias, professor de Educação Física na Sociedade de Assistência aos Cegos. |
A história do alfabeto braille
O educador francês Louis Braille
(1809-1852) é o inventor das letras que os cegos podem ler: o alfabeto braille. Quando
tinha cinco anos, mexendo nas coisa do pai artesão, Louis furou o olho e perdeu a visão.
Isso não impediu o garoto de estudar: ele aprendeu, inclusive a tocar piano e, quando
cresceu, tornou-se professor.
Mas Louis vivia preocupado: Como os cegos podiam ler? Um
dia, ao ouvir uma notícia no jornal, ele procurou o capitão Charles Barbier de la Serre.
O capitão havia descoberto um modo de ler no escuro, com letras que eram pontos e
traços. Braille, mais sabido, melhorou a invenção.
Ele criou um sistema simples: seis buracos
dentro de um pequeno espaço. Os buracos se multiplicavam em 63 combinações diferentes e
cada combinação era uma letra, uma palavra, ou um sinal de pontuação. Com isso, muita
gente aprendeu álgebra, gramática e geografia. E continua aprendendo muito mais, até
hoje.
Para conhecer o braille, você pode pesquisar na Internet.
Um endereço legal é o do Instituto Benjamin Constant (www.ibcnet.org.br), onde está o
Mundo Braile. Você também pode visitar a Biblioteca Braille Josélia
Almeida, parte da Sociedade de assistência aos Cegos.
Para saber mais
A Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC) foi criada em 1942 por dois amigos: o oftalmologista Hélio Góes Ferreira e o padre Arquimedes Bruno. Ela é uma sociedade filantrópica, quer dizer, feita de amor e atenção aos outros. As crianças, os jovens e os adultos podem freqüentar a SAC sem pagar nada. E a Sociedade é grande. Conheça um pouco:
- Instituto de Cegos Dr. Hélio Góes Ferreira -
fundado em 1943, é a primeira escola do Ceará para a educação de deficientes visuais.
O Instituto oferece educação infantil (hoje, existem 67 crianças matriculadas, do
maternal à alfabetização), ensino fundamental e alfabetização de adultos;
- Biblioteca Braille Josélia Almeida - na sala de leitura, é possível
ter oficinas de textos, ouvir histórias, assistir vídeos...
- Imprensa Braille Rosa Baquit - traduz livros e outros
textos para o braille.
- Banco de Olhos do Ceará - desde 1976, recebe doações de córneas
para transplante.
A SAC oferece ainda cursos para professores. Eles podem
aprender a linguagem braille e a usar o DOSVOX. Há também cursos profissionais, como:
fabricação de bengalas e vassora, bijuteria e inglês.
Outrs informações no site www.sac.org.br, ou na Av.
Bezerra de Menezes, 892, São Gerardo. Fone: 281.6111
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