Jornal O POVO
Domingo - 02-11-2003
Fortaleza - Ceará - Brasil
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INSTITUTO DOS CEGOS
Ibeu oferece curso para turma especial
Aprender um segundo idioma, aumentar as chances no mercado de
trabalho e desenvolver a auto-estima em pessoas com deficiência visual são os objetivos
de um curso de inglês desenvolvido no Instituto dos Cegos. As aulas são ministradas por
professores do Ibeu-Ce
Há três meses,
Josilene Alencar da Silva, de 19 anos, tem compromisso certo aos sábados. Ela acorda bem
cedo, por volta de 5h30min, para estar no ponto de ônibus uma hora depois. Moradora de
Pacatuba, na Região Metropolitana, a garota viaja por mais de uma hora para chegar a
Fortaleza, mas não reclama. Ela ainda pega outro ônibus e chega pontualmente ao
Instituto dos Cegos. Lá, Josilene é uma das doze pessoas com deficiência visual que
recebem gratuitamente aulas regulares de inglês ministradas pela professora Vanielly
Azevedo. |
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A iniciativa é do Instituto Brasil-Estados
Unidos no Ceará (Ibeu-Ce) em parceria com a Sociedade de Assistência aos Cegos. O
supervisor acadêmico do Ibeu-Ce, Márcio Mota, conta que a intensão é inserir a pessoa
com deficiência visual no mercado de trabalho e melhorar sua auto-estima. Para Cláudia
Holanda, assistente social do Instituto, o objetivo vem sendo alcançado: ''Eles estão
bastante motivados, afinal, também são cobrados no trabalho e saber uma segunda língua
é uma capacitação a mais. Além disso, eles se sentem valorizados como cidadãos''.
Josilene confirma que as aulas de inglês e o
atendimento psicológico oferecido pelo Instituto dos Cegos a ajudaram a aceitar melhor
sua deficiência visual. Vítima de stargart - uma degeneração
congênita da mácula central da córnea, que reduz gradativamente a visão - ela diz que
hoje sabe lidar melhor com o preconceito e com suas condições, sem, entretanto, abrir
mão de seus objetivos. Um deles é ser professora de inglês e português. Para tanto, a
estudante vem se preparando para prestar vestibular para Letras.
Essa auto-aceitação que Cláudia vê se repetir nos demais
alunos é resultado de um trabalho especial. Na turma, além de doze pessoas com pouca ou
nenhuma visão, há também oito alunos com visão normal. São funcionários do Instituto
dos Cegos, que, com o curso, poderão usar os conhecimentos adquiridos no próprio
trabalho, como professores, nos grupos de teatro e nas aulas de informática. Cláudia
lembra que essa interação é extremamente benéfica para derrubar preconceitos.
''Podemos até ter mais trabalho por causa das adaptações, mas vale a pena, o resultado
recompensa muito ao ver o progresso deles'', afirma Márcio.
Para participar das aulas, as exigências são ter mais de treze
anos e o primeiro grau completo. Esta é a primeira turma, mas Márcio garante que o
Ibeu-Ce tem a intensão de expandir o projeto, inclusive em outras entidades de
assistência. No próximo ano, novas turmas devem ser criadas e outros professores
capacitados para atenderem grupos especiais de alunos. Márcio Mota diz ainda que outros
professores do Ibeu-Ce irão aprender Braile, tanto para as novas turmas, que devem ser
criadas no próximo ano, quanto para o atendimento nas unidades da Instituição, que hoje
contam com dois alunos.
Metodologia é adaptada
Mesmo fora das salas das unidades do Ibeu-Ce,
as aulas ministradas no Instituto dos Cegos têm o mesmo conteúdo e material didático,
apenas adaptados às necessidades especiais da turma. O curso é o mesmo ofertado pela
instituição em suas unidades, com duarção total de seis anos e duas avaliações
semestrais. O módulo básico é realizado em dois anos e o primeiro semestre deve ser
encerrado em janeiro. Vanielly afirma que a continuidade é fundamental para o
aprendizado: "A gente ressalta que é muito importante a freqüência, que eles devem
vir sempre". Para tanto, são distribuídos vales-transportes para os alunos.
Uma pedagoga, especializada em didática para
pessoas com deficiência visual fez uma preparação com profissionais do Ibeu-Ce para
adequar a metodologia de ensino do curso. "Como a gente não usa tradução no nosso
método, trazemos materiais táteis para que eles possam aprender pelo toque em vez da
visão", explica Vanielly, que aprendeu a linguagem Braille para melhor ensinar um
aluno com deficiência e hoje usa este conhecimento nas aulas do Instituto dos Cegos.
O material também é adaptado. Os alunos que não têm nenhuma
visão recebem os livros em Braille. Já para os que têm visão sub-normal, as letras
foram ampliadas para facilitar o aprendizado. Figuras foram substituídas por
descrições e as sensações auditivas e táteis são mais exploradas, através de
músicas e objetos.
O CIDADÃO |
OPORTUNIDADE Maria Carlisete da Silva, de 29 anos, é uma das mais empolgadas com a nova experiência. Com deficiência visual desde um mês de vida por um problema congênito, há muito tempo Carlisete desejava aprender uma língua estrangeira, sempre gostei de inglês, e esta é uma oportunidade incrível". Além disso, para ela, a aula de inglês é uma oportunidade de conseguir um novo emprego, mas sem abrir mão de seu atual trabalho. Ela acredita que, com a noção de inglês pode melhorar o serviço. Funcionária do Instituto dos Cegos, Carlisete revisa textos e pretende trabalhar com material em inglês futuramente. "Amo ser revisora e trabalhar aqui. Acho que posso contribuir mais se souber inglês", acredita. |
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