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Jornal O POVO
Sábado
- 16-12-2006

Fortaleza - Ceará - Brasil
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PONTO DE VISTA
Uma pessoa chamada Waldo


Jornalista
Nonato Albuquerque

     O doutor Waldo era humano. Nenhuma obviedade na afirmação. Todos somos humanos. Mas, nele, essa característica era integral. A prática do servir se distinguia facilmente dos que propõem a efemeridade do Ter e daqueles que vivenciam a eternidade do Ser. Na sua figura bondosa, o ideal disposto do serviço ao próximo. Feito no dia-a-dia. Do viver a eficácia do bem, sem restrições a quem quer que fosse. Essa tem sido regra geral dos grandes luminares. O batente de acesso a escalada evolutiva na Terra.

     Quando se compreende que a passagem de todos nós pelo planeta é de escolaridade, de experiência de crescimento, rapidamente, os que alcançam esse estágio buscam se distanciar daquilo que os hindus classificam como "maya" (ilusão). É que, ao invés de viverem de aparência, concentram seus esforços na prática das virtudes maiores. Doutor Waldo era pessoa não apenas no sobrenome.

     Ao longo dos últimos dois anos, ele e sua equipe estiveram demonstrando essa qualidade através do nosso programa da rádio POVO/CBN, "Rádio Serviço". Aos sábados, o programa ia aos bairros. De forma voluntária e disposição amiga, ele celebrava o atendimento a centenas de pessoas buscando diminuir o fosso que separa o cidadão das ações sociais verdadeiras.

     No complexo da Padre Anchieta com Bezerra de Menezes, onde funciona a Sociedade de Assistência aos Cegos, doutor Waldo multiplicava-se. Empenhava-se para que todos tivessem atendimento igualitário. O corte de recursos da Previdência, o deixava preocupado. Para afastar a possibilidade de um dos serviços serem interrompidos, ele criava alternativas. O mutirão dos sábados é a mais recente.

     Um dos traços dessa personalidade era a bonomia de trato com as pessoas. Nunca encerrou uma conversa ao telefone que não acentuasse: "e olhe: obrigado por tudo!", como se estivesse agradecendo por uma existência inteira. Era o seu hábito. A visão humana de quem sabe ser grato e compreende a extensão da Vida.

     A saída do corpo de forma violenta, nos deixa lições. A da inquietação nossa de conviver com os equivocados da Vida - esses que matam o corpo, mas jamais atingirão a essência que somos. Outra, a preocupação de que não aprendemos ainda a lição cristã do mostrar a outra face. Qual é a outra face da violência? A identificada por Gandhi como "ahimsa". A de não reagir. Em favor da própria Vida.

CAPA DO JORNAL O POVO DO DIA 16/12/2006
CAPA DO JORNAL O POVO DO DIA 16/12/2006


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