Jornal O POVO
Terça-feira - 19-12-2006
Fortaleza - Ceará - Brasil
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SAUDADE DE WALDO PESSOA
Instituto dos Cegos volta a funcionar
Com as atividades paradas desde a última sexta-feira por conta da morte do médico Waldo Pessoa, o Instituto dos Cegos voltou a funcionar ontem. Rostos tristes, comentários entre os pacientes e a sensação de que finalmente "caiu a ficha" da morte do presidente da entidade
Todos sabiam, mas ainda era difícil de
acreditar. Mais difícil era voltar ao trabalho sem a supervisão do médico
oftalmologista Francisco Waldo Pessoa de Almeida, presidente da Sociedade de Assistência
aos Cegos (SAC), também conhecido como Instituto dos Cegos. Ele era um dos primeiros a
chegar para começar o trabalho, suas atividades começavam às 5h30min. Coordenava todas
as tarefas, das mais simples às mais complexas. Nos corredores da entidade, que voltou a
funcionar ontem depois de três dias de paralisação, rostos tristes e comentários sobre
o assassinato do médico, que morreu na última quinta-feira, após uma tentativa de
assalto em sua clínica, na avenida Bezerra de Menezes.
Ainda não é certo quem será o novo presidente e nem há
previsão para que o sucessor do médico Waldo Pessoa assuma o cargo. No entanto, de
acordo com Diane Fernandes, contadora da SAC, que faz também parte da administração da
entidade, a função será ocupada provavelmente pela atual vice-presidente, Nájela
Baquit. "Mas só poderemos confirmar se ela será realmente a presidente depois de
uma votação do conselho da diretoria executiva da entidade, que ainda não tem data para
ocorrer". A contadora diz ainda que o sentimento de tristeza é geral entre os
funcionários. "O momento é de dor e dificuldade de estar aqui mesmo sem ele. Voltar
ao normal é impossível, mas estamos funcionando".
O militar reformado José de Holanda Campelo vem do município de
Trairi, a 137 quilômetros de Fortaleza, para ser consultado na entidade e relata a falta
que o médico vai fazer. "Ele era um homem bom, gostava de ajudar as pessoas. Era
humano". A dona de casa Francisca Rodrigues Lima, 71, relembra o quanto o médico era
querido. "Era muito atencioso e estava sempre por perto, querendo saber como a gente
estava". A paciente fez recentemente um transplante de córnea, pois há 16 anos não
enxergava pelo olho esquerdo. "Ele ajudava muito as pessoas. Foi uma morte muito
triste", completa.
A atendente e secretária do médico, Edigleuba Castro, que
trabalhava com ele há sete anos, relata que presenciou diversas reações de pacientes.
"Uns choravam, outros tentavam dar uma palavra de consolo". Segundo ela, das
consultas marcadas, apenas oito foram realizadas por outros médicos. "Muita gente
preferiu ir embora. Outros nem vieram. E alguns até repensaram se dariam continuidade ao
tratamento, pois não queriam ser atendidas por outro médico". Sobre a dificuldade
de voltar ao trabalho sem a presença do médico, ela enche os olhos de lágrimas. "A
sensação é péssima. Essa é a descrição".
Alguns dos funcionários estavam de recesso, mas decidiram ir ao
Instituto para organizar a missa de 7º dia, que será realizada na próxima quarta, lá
mesmo. A professora de artes e coordenadora de eventos do Instituto Hélio Góes, escola
que funciona no local, afirma que o médico era como um pai para todos os funcionários.
"A sensação de vê-lo nos arredores da clínica é muito grande. É como se a ficha
estivesse caindo agora. Ele era um exemplo de vida e determinação".
Entidade faz 1.300 atendimentos por mês
A Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC)
atua nas áreas de educação, saúde, profissionalização e inserção social dos
deficientes visuais. Em funcionamento há 64 anos, a entidade não tem fins lucrativos e
se mantém por meio das consultas, exames e cirurgias pagas por convênios particulares e
por repasses do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com a contadora Diane Fernandes, que também faz parte
da administração da SAC, 60% do atendimento é realizado pelo SUS, cerca de 1.300
atendimentos por mês. Além disso, como há um número de cirurgias limitado pelo
governo, são realizado operações a preços populares aos sábados. "É uma forma
dos pacientes que não têm condições de esperar pela cirurgia possam ter acesso por um
preço mais barato". O valor chega a 80% a menos que o normal.
Em 2005, foram realizadas 6.412 cirurgias pelo SUS e 988 por
outros convênios. Foram ainda 21.187 consultas pelo SUS e 5.577 por outros convênios.
Já os exames, foram 3.301 pelo SUS e 5.948 por outros convênios.
A entidade é formada pelo Instituto Hélio Góes, que atende 250
alunos com deficiência visual, pelo Hospital Alberto Baquit Júnior, pela Unidade
Oftalmológica Iêda Otoch Baquit, pela Biblioteca Braille Josélia Almeida, pelo Centro
de Prevenção à Cegueira Cel. José Bezerra de Arruda, entre outros programas.
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