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Domingo
- 25-02-2007

Fortaleza - Ceará - Brasil
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SAÚDE OCULAR
PARÂMETROS DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL


As novas tecnologias, o exercício da atividade e as expectativas em relação ao futuro são temas abordados pelo presidente da Sociedade de Oftalmologia do Ceará, que aponta ainda os desafios para o acesso da população aos consultórios

Foto do Jornal O POVO
OS PROFISSIONAIS da oftalmologia defrontam-se com a dificuldade de prestar o atendimento adquado às camadas mais carentes da sociedade

Num cenário de inovações, o presidente da Sociedade de Oftalmologia do Ceará, Sérgio Augusto Carvalho Pereira, alerta para a importância da consulta com o profissional habilitado: o médico oftalmologista. A seguir, ele discute ainda a atuação da Sociedade no combate ao exercício ilegal da profissão. Lembra também as iniciativas isoladas de alguns. Profissionais que se engajam em projetos sociais e destaca o exemplo/deixado pelo oftalmologista Waldo Pessoa. Diante disso, uma das bandeiras da Sociedade ainda é a sensibilização dos governantes para a importância do acesso à oftalmologia por parte da população.

O POVO - Quais as principais novidades na oftalmologia, em diagnóstico e tratamento?
Sérgio Augusto Pereira - OS exames computadorizados em crianças vieram facilitar muito o diagnóstico, já que há uma dificuldade de informação nessa idade, de se expressar. Os aparelhos de alta refração melhoraram muito essa condição. As imagens fotográficas de retina são digitalizadas em computador. O fato de se ter como arsenal terapêutico uma quantidade grande de medicamentos que não existiam antigamente já possibilita melhor adequação de determinados tratamentos, que ficaram cada vez mais cômodos. Os de glaucoma, por exemplo, hoje em dia, já se fazem muitas vezes com colírio, usado só uma vez ao dia. Houve evolução tanto no tratamento como no diagnóstico. Aparelhos cada vez mais sensíveis, com os quais certas condições são detectadas mais rápido, permitem diagnósticos mais precocemente. Essas novidades permitem tratar e diagnosticar melhor as doenças.
OP - Em que outros aspectos a tecnologia tem ajudado?
Sérgio - Hoje já existem as lentes multifocais, para ver de longe e de perto, e também a lente intra-ocular no lugar dos óculos de lentes grossas, quando se fazia a cirurgia da catarata. As lentes eram grandes, aí passaram a ser colocadas lentes dobráveis numa cirurgia através de uma pequena incisão. Hoje existem lentes dobráveis que são multifocais. Ainda não são indicadas para todas as pessoas, mas aquelas que têm essa indicação já podem se beneficiar disso. No caso da retina, há o uso de antiangiogênicos, medicamentos que estão sendo introduzidos no tratamento da degeneração macular relacionada à idade. No glaucoma, há novas técnicas de cirurgia e medicamentos.
OP - Essas tecnologias já está disponíveis aqui no Ceará?
Sérgio - Geralmente esses equipamentos são muito caros. Hoje em dia existe a tendência de formar clínicas com equipamentos que permitem subespecialidades dentro da clínica e os clientes podem ser direcionados, dependendo dos problemas, para os profissionais que estão realizando aquele tipo de subespecialização. Então a formação da clínica com a compra de equipamentos mais dispendiosos fica melhor e se adequa melhor ao tratamento de determinados pacientes, que precisam de tratamentos mais especializados.
OP - Como anda a formação dos profissionais em Oftalmologia?
Sérgio - Existe uma tendência a se fazer subespecialidades: o médico retinólogo, que se dedica à retina, o glaucomatólogo, que faz a parte de glaucoma... O próprio cirurgião de catarata e cirurgia refrativa, hoje, está tentando se subespecializar nessa área. Essa subespecialização faz com que o profissional se dedique a determinadas áreas exclusivas e possa fazer melhor aquilo.

"0 profissionais Oftalmologia passa 6 anos na Medicina e mais 3 na especialidade. Há profissionais no mercado sem esses conhecimentos"

OP - Quais são as expectativas para o futuro?
Sérgio - De que essas tecnologias melhorem cada vez mais. Por exemplo, o antiangiogênico, hoje, é aplicado através de infiltração dentro do olho. Espera-se que essa forma de aplicação melhore, para evitar que pessoa tome uma injeção no olho. Medicações que não precisam ser invasivas são uma perspectiva futura.
OP - Nesse cenário, quais os principais desafios da oftalmologia?
Sérgio - No que diz respeito à consulta oftalmológica, a gente não tem culpado a própria clientela de não fazer os exames de rotina. O acesso aos exames está reprimido por causa da falta de estrutura, principalmente nas unidades de saúde pública. Para tentar contornar isso, a Sociedade de Oftalmologia vai tentar parcerias com os Lions Clubes e outras entidades, para promover algum tipo de atendimento gratuito à população, para ver se a demanda é diminuída. Vamos tentar sensibilizar órgãos públicos, no que diz respeito aos seus administradores, para haver concurso para a área de Oftalmologia dentro do setor público, para fazer com que haja mais profissionais. É uma tentativa de reduzir essa demanda. Se houvesse mais profissionais, não existiria isso. E aí a tendência é que se procurem pessoas não habilitadas.
OP - O senhor poderia especificar melhor essa falta de habilitação?
Sérgio - É importante frisar que a consulta deve ser feita pelo médico oftalmologista: Há determinados profissionais surgindo na área, que não têm a mesma capacidade do médico. O profissional de Oftalmologia passa 6 anos na Faculdade de Medicina. O olho não é uma estrutura isolada. Para você fazer o estudo do olho, tem que vê-lo dentro de um contexto, que se chama 'corpo humano'. E, para isso, você tem que ser médico e ainda passar mais 3 anos na especialidade de Oftalmologia. Está existindo no mercado a formação de determinados profissionais que não têm a bagagem de conhecimentos que o médico oftalmologista tem nem são capacitados para resolver esses problema.
OP - Qual a medida adotada para combater esse tipo de prática?
Sérgio - O exercício ilegal da Medicina tem que ser denunciado e investigado pelo Ministério Público e pela Vigilância Sanitária. A gente não vê muito isso na prática, mas nem culpo o Ministério Público e a Vigilância Sanitária disso, existem tantos problemas a se resolver nessa área que, às vezes, passa despercebida uma situação dessas. O departamento jurídico está atuando no sentido de detectar essas contravenções e entrar na justiça contra isso. O Decreto Lei nº 20.931, de 11 de janeiro de 1932, estabelece o exercício do profissional da Oftalmologia, determinando o que cada qual está habilitado a fazer. No caso do exame oftalmológico é o médico oftalmologista, os óculos, são feitos pelos óticos e o dono da casa comercial de ótica vai vender os óculos. Então é cada um na sua área.
OP - Quais contribuições o Dr. Waldo Pessoa deixou que podem ser aproveitadas pela categoria?
Sérgio - O trabalho dele na Sociedade de Assistência aos Cegos fez com que houvesse uma certa preocupação com as pessoas que têm deficiência visual, principalmente as de baixa renda, que não tinham acesso a determinados tipos de tratamento. Ele se preocupava com o engajamento dessas pessoas na sociedade, com a pessoa cega ou de visão subnormal sem uma estrutural para uma vida adequada às suas condições. Preocupava-se muito com esses detalhes. Eu acho que a estrutura na Sociedade de Assistência aos Cegos a gente tende a querer manter e até melhorar. Realmente, ele foi um profissional que só merece elogios, temos que enaltecer o trabalho dele nesse aspecto.
OP - Há iniciativas de oftalmologistas junto à comunidade...
Sérgio - Eu tenho colegas que já fazem cirurgias de catarata congênita sem cobrar nada, pelo próprio fato de a maioria dessas cirurgias serem em pessoas de baixa renda e, às vezes, elas não terem acesso. Quando você tem, por exemplo, uma cirurgia de catarata numa criança, é mais fácil conseguir os óculos depois, uma lente intra-ocular porque as próprias empresas vêem que estão fazendo aquilo em prol de alguma pessoa que não tem acesso. Geralmente há doações.

A pessoa do médico Waldo

Foto do Jornal O POVO

      O oftalmologista Francisco Waldo Pessoa de Almeida foi assassinado no fim de tarde de 14 de dezembro de 2006, aos 69 anos, após tentativa de assalto à sua clínica de Oftalmologia à Av. Bezerra de Menezes, no bairro Otávio Bonfim. Nascido em 10 de agosto de 1937 em Quixadá, ele formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em dezembro de 1964.
      Foram 42 anos de profissão, sendo 30 dedicados à Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), popularmente conhecida como Instituto dos Cegos, de onde Waldo Pessoa foi presidente. Um dos pioneiros no transplante de córnea no Ceará, dedicou-se à luta pela doação. Até hoje, o oftalmologista é referencia para outros profissionais do ramo – resultado de uma trajetória marcada pela luta em prol dos deficientes visuais e pela sua extremada dedicação a obras de caráter social.


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