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Quarta-feira
- 10-01-2007

Fortaleza - Ceará - Brasil
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BALANÇO
Falta segurança social


Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio
da Redação

      Quatorze quadrilhas atuaram em seqüestros, em 2006, no Ceará. Apesar da prisão de 76 acusados de participação na maior parte das 22 ações registradas até agora, a Polícia não conseguiu inibir a migração de bandidos para essa modalidade de crime. No balanço administrativo de um ano e meio à frente da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o general Theo Basto afirma que buscou dar outros rumos ao setor no Estado.

      A pasta da Segurança Pública é a mais difícil das secretarias do governo. A opinião é do ex-titular do setor, general Theo Espíndola Basto. Dezoito meses após assumir o lugar do delegado federal exonerado Wilson Nascimento, o militar diz que a insegurança no Interior do Ceará e o déficit de efetivo nas polícias serão os principais desafios do governador eleito Cid Gomes (PSB).

      Segundo ele, outro desafio do atual secretário (desafio que não é novo), Roberto Monteiro, é trabalhar a segurança pública de maneira multidisciplinar e descentralizada com secretarias que optem por políticas públicas na área da segurança social. Até agora, quem ocupou a pasta andou em círculos e o que mais conseguiu foi correr atrás de bandidos.

      O general afirma que até ensaiou fazer o contrário quando iniciou um projeto-piloto no bairro Bom Jardim, unindo atuações das secretarias da área social. "Mas faltou tempo", admite. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida no mês de dezembro do ano passado quando o general preparava-se para deixar o cargo.

Foto do Jornal O POVO
O EX-SECRETÁRIO de Segurança, Theo Basto, diz que a Polícia não
pode se antecipar aos bandidos para coibir a violência

O POVO - Qual o principal problema que o novo secretário da Segurança deverá enfrentar?
General Theo Basto - A interiorização da segurança, aumentar o efetivo das polícias e fazer novos presídios e novas casas de detenção provisória. Falei para a equipe de transição. Não tenho os números agora, mas é preciso mais policiais. Criamos 900 vagas nas Casas de Privação Provisória de Liberdade em Caucaia e Itaitinga e oferecemos uma situação mais digna para presos e para os profissionais trabalharem.

OP - A sensação que se tem é que todo secretário da segurança corre atrás do próprio rabo. Quando a segurança vai ser encarada como problema, também, das secretarias da Ação Social, Juventude e Educação?
Theo Basto - Ninguém nasce bandido. Ele recebe o carimbo de bandido quando é detido e contido pela polícia. Aí as pessoas confundem a contenção com a culpa e culpam a polícia pela violência. Polícia não é culpada pela violência, ela é responsável pela contenção da violência. A violência nasce de uma família desestruturada, por causa da escola que não exige educação e respeito ao professor, que não exige obrigações dos alunos. Por uma religião que não existe, pela falta de trabalho e opções. O indivíduo não encontra uma perspectiva de vida e aí, infelizmente, caminha para o crime por causa de uma necessidade impositiva. Ou fica perdido nesse mundo e cai em situações de mendicância. A polícia não tem culpa disso, ela só vai entrar no momento que o camarada comete um crime.

OP - O senhor passou 18 meses como secretário. Quantas vezes sentou para planejar com o secretário da Ação Social, da Juventude e Educação?
Theo Basto - Muitas vezes. E aqui está o programa de apoio à segurança social (mostra a revista Segurança Pública, que traz um balanço da pasta). Nós lançamos em setembro deste ano no Bom Jardim. Isso foi feito com a Segurança Pública, Esporte e Juventude. Criaram em Brasília um programa de esporte à meia-noite e foi vitorioso no Distrito Federal. Era exatamente a hora que a mocidade ficava disponível para entregar umas "trouxinhas" (papelotes com droga). Professores de educação física, basquete, futebol levaram os meninos para a prática do esporte. Aplicamos o modelo aqui.

OP - Por que isso não foi feito na antiga favela do Gato Morto, por exemplo? O governo construiu uma praça, quadra e campos pra vôlei e futebol, mas as gangues do Lagamar ocuparam o espaço dia e noite.
Theo Basto - É verdade, mas isso não é culpa da polícia. O problema é amplo, no Bom Jardim estão juntas a Sejuv, a Cultura, a Ação Social, Trabalho e Empreendedorismo. Inclusive microempresários distribuíram recursos para se montar fabriquetas. Agora, realmente, foi uma experiência que o tempo só me permitiu fazer um piloto no Bom Jardim.

OP - No combate ao seqüestro, a Secretaria diz ter um bom índice de resolução. Mas o que falta para se antecipar ao crime? Em agosto de 2006, em uma outra entrevista, o senhor disse que eram quatro quadrilhas atuando no Ceará e que o crime ia arrefecer. O que deu errado?
Theo Basto - Ninguém pode penetrar na cabeça do bandido, a iniciativa é dele. Ele sabe o que vai fazer, quando vai fazer, contra quem vai fazer, onde vai fazer e como vai fazer. Então não há possibilidade humana, em lugar nenhum do mundo, de você se antecipar ao bandido numa ação de seqüestro. Por quê? Ele planeja, reconhece, passa um mês montando, etc, etc. É impossível você evitar a ação do bandido, você teria de ter para cada cidadão um policial, a cada esquina um policial. Bom, mas a resposta tem de ser eficiente. Apareceu o crime, temos de correr atrás e combater. Trouxemos para o Ceará o disque-denúncia: 3488-7877. Ele permite a qualquer cidadão denunciar um crime sem se identificar. É garantido o anonimato e o sigilo. Esse serviço foi disponibilizado para mobilizar a sociedade. A pessoa faz a denúncia, recebe uma senha e pode acompanhar o andamento do caso. Foi um modelo copiado do Rio de Janeiro num ano que registraram 108 seqüestros e no ano seguinte baixaram para oito casos. Isso ajuda até para prevenir e localizar cativeiros. Se não posso botar um policial em cada esquina, trabalho com o cidadão para ajudar a combater o crime.

OP - O senhor acha que o seqüestro vai arrefecer?
Theo Basto - Repare, foram 76 seqüestradores presos. É muita gente, são 14 quadrilhas desarticuladas. Não se escuta falar de assalto a carro-forte, a banco, roubo de cargas caíram. A polícia conseguiu conter. Isso fez com que eles começassem a entrar nesse ramo. É um trabalho delicado, para isso criamos a Divisão Anti-Seqüestro.

OP - Quanto à segurança à pessoa, onde a Secretaria falhou? No fim do ano passado, por exemplo, tivemos comoção pública pelo assassinato do empresário da banda Libanus, da morte do geólogo que estava passando férias em Fortaleza e do latrocínio do médico Waldo Pessoa.
Theo Basto - Se faz segurança pública e não segurança pessoal.

OP - Quando falamos de segurança à pessoa, nos referimos à proteção do cidadão em seu dia-a-dia, na rua, no local de trabalho, no local de diversão. Inclusive nas estatísticas da própria secretaria, usa-se a nomenclatura segurança à pessoa.
Theo Basto - Eu sei, mas de maneira geral. Onde no mundo você tem garantida a segurança à pessoa. Um brasileiro foi morto em um metrô em Londres. Doutor Waldo foi morto, nos trouxe constrangimento, tristeza, aborrecimento, nos indignou. A resposta foi dada, o camarada está preso. A segurança à pessoa é particular, ou seja, as pessoas fazem sua segurança pessoal. Não existe possibilidade de fazer segurança à pessoa. Você faz segurança pública de uma maneira geral, mas não específica à pessoa. A segurança patrimonial e pessoal é de cada qual. Não temos condições, nem efetivo, a não ser em situações de risco ou de vítimas. Fazemos segurança pública e somos preparados para dar resposta ao crime, esse é o nosso papel principal.

OP - Então a Segurança Pública falhou. O geólogo foi morto em um local público, área onde estava se divertindo na praia do Cumbuco...
Theo Basto - Aí você está entrando em um outro caminho. A gente conversa em um nível bom. A pessoa foi morta em uma situação em que não poderia ter um policial ao lado dele. Qual é a obrigação da Segurança Pública? É dar resposta ao crime, temos que procurar botar na cadeia o criminoso. Agora, evitar o crime, foi o que eu falei: eu não sei a iniciativa do bandido, quem ele escolheu, onde, etc. É iniciativa dele. Não há no mundo inteligência que permita impedir o crime. Violência não é culpa da polícia, da segurança pública. Temos de trabalhar bem, trabalhar forte, é difícil. Com certeza, é a pasta mais difícil porque lida com a vida e o patrimônio das pessoas.

Nota de esclarecimento:
O Médico Waldo Pessoa era Presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC na época que foi brutalmente assassinado.


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