Para chegar do outro lado da avenida Bezerra de Menezes, o cego Francisco Ernane Lopes, 38, parou próximo ao semáforo, adaptado para pessoas com deficiência, e esperou o sinal sonoro. “Esperei, esperei, e nada de começar a sirene. Fiquei lá, até vir uma pessoa me ajudar a fazer a travessia”, lembra Ernane, que estava a caminho da Sociedade de Assistência aos Cegos na semana passada e se sentiu inseguro para atravessar sozinho. “O sinal quebrado dificulta muito a vida da gente”.
Na contagem de profissionais da Sociedade de Assistência aos Cegos, mais conhecido como Instituto dos Cegos, já faz cerca de três semanas que o equipamento apresentou defeito e o órgão responsável foi comunicado. Já o Controle de Tráfego em Áreas de Fortaleza (CTAFor) informa que detectou o problema na segunda-feira passada, dia 29 de novembro. Desde então, cegos que visitam o Instituto enfrentam a dificuldade de atravessar a avenida, que é larga e tem grande fluxo de veículos.
O semáforo tem três tempos para os carros e um tempo para os pedestres. Como os carros vêm de várias direções e ainda tem motoristas que fazem retornos irregulares naquele ponto, a avenida fica ainda mais perigosa. Por isso, os cegos ouvidos pelo O POVO enfatizaram a urgência do conserto.
De acordo com o professor de orientação e mobilidade do Instituto, André Frota, os alunos têm sido orientados a pedir ajuda na hora de atravessar. “O cego fica realmente sem possibilidade de ter autonomia para ir e vir. Isso restringe o direito do cidadão”. Ele explica que a principal referência para os cegos é o sinal sonoro. Somado a outros problemas de acessibilidade da avenida, os cegos ficam ainda mais expostos a acidentes. “Eles (cegos) já têm a dificuldade de infraestrutura, pela falta de faixa de pedestres (os carros param no local da travessia), pelos entulhos no canteiro central. Sem o sinal sonoro, fica perigoso”.
O gerente de estudos e projetos do CTAFor, Gustavo Pinheiro, não é possível fazer a manutenção do equipamento com defeito, porque ele é muito antigo e o contrato com a empresa que presta o serviço não cobre o reparo. “Vai ser implantado um novo equipamento, que já existe em outros quatro pontos da cidade. Ainda não sabemos quando vai ser instalado, mas vai ser em breve. A data será definida e, por enquanto, a AMC vai visitar e informar o Instituto dos Cegos sobre a mudança e o funcionamento do novo equipamento”, garantiu.
Segundo ele, a troca do equipamento já estava prevista. “Só que a gente estava esperando dados de geometria e sinalização do Transfor (Programa de Transporte Urbano de Fortaleza). Por causa do problema, a gente está adiantando a troca”, disse.
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Bezerra de Menezes em imagens
PERIGO PARA CEGOS
Entulho e carro no meio do caminho
Com as obras do Programa de Transporte Urbano de
Fortaleza (Transfor) em andamento, a sinalização horizontal
ainda não foi realizada. Sem faixa de pedestres, motoristas
estacionam sobre o local que seria utilizado para a travessia.
Se fica difícil para quem pode ver, imagine para quem não
vê. A obra do Transfor passou pela avenida Bezerra de
Menezes, na altura do Instituto dos Cegos, mas ainda há
entulho acumulado no canteiro central. |