Jornal O POVO
Terça-feira - 05-05-2015
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Alunos com deficiência apontam dificuldades nos trajetos na Bezerra
Interdição das paradas em frente à Sociedade de Assistência aos Cegos agravou os problemas de pessoas com deficiência que vão de ônibus às aulas. Elas criticam distância da parada e citam falta de rampas e sinais sonoros
Quem conquistou a autonomia no percurso agora é orientado a sempre pedir ajuda na rua. Quem já precisava acompanhar todo o trajeto do filho à escola percebe que os obstáculos se multiplicaram.
São estes os relatos de pais e alunos que chegam de ônibus à Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), na avenida Bezerra de Menezes. Com a percepção de uma estrutura ainda mais hostil às pessoas com deficiência, eles pedem soluções em acessibilidade para chegar às paradas de ônibus no canteiro central. E a estação interditada em frente à instituição, por causa do buraco que se abriu na pista no último dia 29, agrava os problemas.
Baixa visão e paralisia cerebral fazem com que Mykael Costa, 15, seja levado todos os dias à instituição numa cadeira de rodas. A mãe Ivonete, 31, ajuda no caminho começado ainda Caucaia. Antes das paradas no canteiro central, eles utilizavam a faixa de pedestre no cruzamento com a rua Padre Anchieta. Com o novo corredor, há uma nova faixa sinalizada próxima à estação de ônibus. O problema é que não há rampas, apenas uma ladeira para passagem de carros. “A calçada é muito alta, não consigo inclinar a cadeira. É um sufoco, tem dia que ele pede pra nem vir”, reclama.
Paralisia cerebral também é o diagnóstico de Rayssa Rocha, 17. Sem equilíbrio, ela tem a mobilidade reduzida. “Ela precisa de mim sempre. E precisa de rampas, porque não tem forças para subir sozinha”, explica a mãe Aline Rocha, 33. Com uma rotina já difícil, adiciona à lista de problemas o longo trajeto feito depois que a estação em frente à escola precisou ser desativada. A descida do ônibus agora fica a seis quarteirões.
Reparo
O buraco aberto no asfalto fica sobre uma galeria de estrutura antiga e deve ser reparado em 15 dias, afirma Valdir Santos, coordenador do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor). Enquanto não se resolver o problema, os alunos continuarão percorrendo distâncias maiores. Se há dificuldades em frente à escola, a situação é pior nas ruas perpendiculares, diz a servidora pública Socorro Parente, 34. Ela é cega e já havia aprendido a chegar à avenida sozinha. Agora, recorre à carona do esposo ou à ajuda das pessoas na rua.
“Estamos mesmo perdidos. Quem é que vai ter tempo de ajudar um cego nessa distância?”, questiona o aposentado Celso Florêncio, 73. O trabalho de André Frota, professor de Orientação e Mobilidade na instituição, é treinar e ensinar técnicas para que os alunos façam um mapeamento dos percursos diários e conquistem a autonomia. “As referências que eles aprenderam para fazer o percurso foram se perdendo. No momento, a melhor opção é pedir ajuda a alguém”, indica.
Reivindicações como um sinal sonoro na nova faixa de pedestre próximo à escola devem ser avaliadas pela Prefeitura, explicou Valdir Santos. Melhorias em acessibilidade são prometidas para ficar prontas até o dia 30 de junho, data prevista para a entrega de segunda etapa do corredor expresso. Na instituição, as calçadas da Bezerra de Menezes ainda devem receber a continuação do piso tátil e rampas nas calçadas como continuação das faixas de pedestres.
Relatos de problemas
1) Para atravessar com o sinal sonoro. o torneira mecânico Vandevaldo Nascimento, 33, precisa utilizar a faixa de pedestres no cruzamento com a rua Padre Anchieta, De lá só andando pela ciclo faixa para chegar às paradas de ônibus. |
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2) Por falta de rampas próximas à estação do Instituto dos Cegos, a mãe de Mykael atravessa a faixa de pedestres com o filho nos braços, deixa-o escorado junto a uma coluna e volta correndo para buscar a cadeira. |
3) Para evitar andar seis quarteirões, a mãe de Rayssa, que tem mobilidade reduzida, pede aos motoristas que improvisem uma parada na estação desativada do Instituto. |
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4) Celso pede a remoção de orelhões e barracas de ambulantes. |
5) Socorro reclama da falta de piso tátil ou rampas nas esquinas e do desrespeito de condutores de veículos nas calçadas. |
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Saiba mais
Alunos e o professor André
Frota reclamam da ausência de diálogo da Prefeitura com instituições e entidades
que defendem o direito das pessoas com deficiência
Conforme Valdir Santos, coordenador do Transfor, as ações são divulgadas com panfletagem na área onde haverá mudanças, e o Município está disposto a ouvir sugestões e reivindicações das partes interessadas.
Com orientação na Sociedade de Assistência aos Cegos, os alunos com deficiências múltiplas são treinados a fazer sozinhos os seus trajetos dentro e fora da unidade.
Aprender o caminho entre a instituição e a parada de ônibus, por exemplo, é um processo que pode levar de três semanas a seis meses, dependendo da assimilação de cada um.
Ainda sem data prevista, a Câmara Municipal de Fortaleza deve sediar audiência pública para discutir a política de acessibilidade na Capital.
A audiência será proposta pelo vereador Acrísio Sena, líder do PT na Casa.
Dentro da temática, um ponto a ser debatido é o problema observado em obras recentes da Prefeitura a partir de reclamações sobre a avenida Bezerra de Menezes, o Terminal do Antônio Bezerra e a avenida Monsenhor Tabosa.
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