Jornal O POVO
Sábado - 12-05-2018
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Com atores cegos, grupo Olho Mágico estreia peça em junho


| VILA PARADISO | Parceria entre a Sociedade de Assistência aos Cegos e o Instituto Vida Cidadã, o grupo Olho Mágico estreia espetáculo em junho com direção do médico e diretor Marcos Queiroz

Adriana Loiola perdeu a visão há 4 anos, devido a um descolamento de retina. Ela ainda foi submetida a uma cirurgia para recuperar a visão, mas não teve êxito. Para se adaptar à nova condição, buscou a Sociedade de Assistência aos Cegos (Sac). Dentre as atividades desenvolvidas na instituição, Adriana encontrou no teatro uma forma de superar a deficiência.

Adriana é uma dos 15 alunos selecionados para integrar o grupo de teatro Olho Mágico, primeira trupe formada por atores cegos ou com baixa visão no Ceará. A exemplo de Adriana, todos os membros são pessoas que passam pelo processo de reabilitação. A iniciativa é uma parceria entre a Sac, o Instituto Vida Cidadã e o médico geriatra e ator de teatro Marcos Queiroz. O grupo foi lançado na última quarta-feira, 9, no auditório da Sac.

Segundo Adriana, o teatro “mudou” sua vida. “Com o grupo, tenho uma nova perspectiva, um crescimento pessoal. No grupo, a gente aprende não só a interpretar, mas também a se locomover em vários espaços. Além disso, saí da depressão e parei de ficar em casa pensando besteira”, acrescenta.

A ideia de criar um grupo de teatro formado por cegos surgiu no ano passado, quando Marcos ainda integrava o curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Tinha uma disciplina para ensinar a montar um espetáculo. Mas resolvi inovar e procurei o Instituto de Cegos com uma proposta de peça interpretada por quatro atores, sendo dois cegos e dois que enxergam. Com o término do trabalho, surgiu a ideia de criar um grupo de teatro com atores cegos ou com baixa visão”, explica.

A partir daí, Marcos procurou o Instituto Vida Cidadã, entidade que atua em projetos sociais. A instituição fez a doação de todo material necessário, como câmeras fotográficas, colchonetes, uniformes e o pagamento do salário de dois professores de teatro.

O grupo, que começou a se reunir em fevereiro, já prepara o primeiro espetáculo, Vila Paradiso, que deverá ser exibido em junho, em apresentação exclusiva para os outros alunos da Sac, e em outubro, para o público em geral. “O Vila Paradiso é um espetáculo baseado em oito esquetes, com textos de autores conhecidos como Luís Fernando Veríssimo. São histórias do cotidiano que terminam sempre com um final feliz”, acrescenta Marcos. Para ele, o teatro pode contribuir para que os alunos possam conviver melhor com a perda da visão. “Atualmente, a arte é bastante usada na medicina. Conheci a arte terapia e a musicoterapia em 1991, quando visitei o Japão. A arte ajuda a tornar a medicina mais humana”, comenta.

A atriz Nadia Fabrici dividirá com o também ator Lucas Duarte as aulas do projeto. É a primeira vez que ela trabalha com atores cegos. “Quando recebi o convite do Marcos para dar aula me perguntei como ensinar teatro a pessoas cegas. Como dizer, por exemplo, “levanta o braço?” Eles podem levantar o braço para qualquer direção ou o braço errado. Mas quando cheguei aqui vi que a gente subestima as pessoas cegas”, aponta. Para passar orientações de marcação de palco para os atores, Nadia realiza os movimentos de olhos fechados. “No teatro é muito visual, mas eles precisam imaginar tudo. Acho que é outra forma de ver”, explica. Para apresentações em espaços não adaptados, o grupo irá levar um piso tátil móvel, que pode ser colocado temporariamente em um local. O piso tátil tem relevos, que informam o cego a direção a ser tomada.

Além do grupo de teatro, a parceria com, inclui a reforma do auditório da Sac, para transformá-lo em um teatro acessível a todos os tipos de deficiência. Com capacidade para de 80 lugares, o local - que se chamará Teatro Waldo Pessoa, nome do ex-presidente da Sac, morto em 2006 - deverá ter piso tátil, rampas, intérprete de libras e display com textos ampliados, além de plataformas elevatórias. O projeto está sendo orçado e a previsão é que as obras iniciem no próximo ano.


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