A iniciativa da Sociedade de Assistência aos Cegos (Sac), conhecida como Instituto de Cegos de criar o "Olho Mágico", um grupo de teatro formado por atores cegos foi acertada.

No início fiquei cético, porque achei que eles abordariam apenas a deficiência em seus espetáculos, mas estava enganado.

A primeira apresentação, com a peça Vila Paradiso, trouxe um apanhado de textos de autores consagrados como Bibi Ferreira e Luís Fernando Veríssimo. Outro ponto positivo foi o profissionalismo dos atores, que passaram por intenso treinamento durante os meses que antecederam o grande dia.

A criação desse grupo pode contribuir de forma significativa para que a sociedade, que em sua grande maioria desconhece a capacidade das pessoas com deficiência possam, enfim, ver que, com talento e dedicação, no palco a deficiência não é um personagem principal, mas sim uma mera coadjuvante.

Mas para que isso aconteça, faz-se necessário que os espaços culturais da cidade abram suas portas e cortinas para que o respeitável público possa acompanhar um verdadeiro espetáculo, que emociona pela qualidade e nos faz rir do início ao fim e que, por um acaso do destino, é interpretado por atores cegos.

Além de levar alegria aos espectadores, o grupo também contribui para a ressocialização desses alunos que, em sua grande maioria, perderam a visão ao longo de suas vidas e passaram por muita dificuldade até chegar esse instante.

Apesar da deficiência ser um pano de fundo durante a apresentação, a preparação para esse momento é lenta e, muitas vezes, dolorosa, pois eles tiveram que, antes de tudo, aceitarem que têm uma deficiência e aprender a conviver com ela.

Esse grupo também pode servir como porta de entrada para esses profissionais em companhias de teatro já consagradas. Quando isso acontecer, teremos dado um importantíssimo passo na inclusão dessas pessoas que poderão interpretar com atores sem deficiência em grandes palcos da cidade.

Quem sabe, um dia, poderemos ir ao teatro e encontrar no palco atores com deficiência de extrema competência contracenando em pé de igualdade com monstros como Emiliano Queiroz e Jô Soares.

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