Jornal O POVO
Domingo - 22-02-1998
Fortaleza - Ceará - Brasil
http://www.opovo.com.br
Instituto dos Cegos defende cidadania
Desde o início do ano a clínica da Sociedade de Assistência
aos Cegos (SAC) já atendeu 2.173 pessoas com problemas visuais. As
terças-feiras são os dias onde a procura acontece em maior intensidade.
Defesa da cidadania. Essa é a principal bandeira levantada pela Sociedade de Assistência
aos Cegos (SAC), conhecido Instituto dos Cegos.
Com uma estrutura organizacional distribuída nas áreas de educação e saúde, a SAC
preza por um atendimento igualitário entre os seus pacientes.
Através da unidade de saúde presta atendimento clínico e cirúrgico ao portador de
cegueira. Equipado com centro cirúrgico, médicos oftalmologistas, uma enfermeira chefe,
12 auxiliares de enfermagem e uma farmacêutica, o hospital da instituição Alberto
Baquit Junior realiza 26 tipos de cirurgias. Catarata, estrabismo, transplante e tumor de
conjuntiva são algumas delas.
A farmacêutica Eleonora Salgado informou que o atendimento varia de acordo com o dia da
semana. A terça-feira é o dia onde a procura acontece em maior intensidade. Para se ter
uma idéia, só na última terça foram realizadas 31 cirurgias no período da manhã. O
hospital funciona nos três turnos, de segunda à sábado, durante as 24 horas do dia.
São realizadas cerca de 300 cirurgias por mês. Desse número, 200 são operações de
catarata.
O primeiro setor por onde passam as crianças ao chegar na instituição é a Unidade de
Prevenção à Cegueira. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar formada
por dois terapeutas ocupacionais, uma fisioterapeuta, uma fonoaudióloga, um educador
físico, além de dois técnicos que realizam estimulação visual. O principal objetivo:
prevenção ao combate a cegueira a partir da infância.
A fisioterapeuta Raquel Albuquerque, disse que a prevenção é a base do tratamento.
"Esse setor é a base de todo o tratamento desenvolvido aqui. Nós trabalhamos o
equilíbrio e a coordenação dessas crianças" - explicou. Raquel informou que a
falta de visão prejudica o desenvolvimento psicomotor das crianças. O professor de
educação física Vicente Cristino desenvolve atendimento na área de esporte atrelado à
psicomotricidade, com a prática de ginástica e natação, por exemplo.
Todo o atendimento da Sociedade de Assistência aos Cegos é gratuito à população. A
manutenção da instituição é obtida através das verbas oriundas dos serviços do
hospital e da Clínica Ieda Otoch Baquit que realiza um série de exames através de
consultas previamente marcadas, como mapeamento de retina e ultrassonografia ocular.
A clínica é equipada com quatro consultórios oftalmológicos e uma equipe de 17
médicos, todos com especialização. Jeane Matos, coordenadora da clínica, disse que
cerca de 400 pacientes são atendidos semanalmente. Desde o primeiro dia do ano já foram
a atendidas 2.173 pessoas.
Profissionalização é prioridade
A Sociedade de Assistência aos Cegos já está equipada na área de informática. Cerca
de 30 alunos estão inscritos no curso de Dosvox, que visa capacitar o deficiente visual
para o manuseio do computador. O programa Windows foi instalado no início dessa semana.
O setor está equipado com uma impressora que imprime textos em braille - meio de
comunicação escrita dos cegos. No Brasil, além de Fortaleza, a impressora só existe na
capital mineira, Belo Horizonte. Para obtê-la, a instituição teve que desembolsar cerca
de U$S 150 mil dólares para a compra da máquina e sua instalação. Através do
aparelho, os deficientes visuais têm acesso diário ao site do O POVO na Internet.
A profissionalização dos deficientes é feita no Núcleo de Expansão da SAC. Tem como
principal objetivo prepará-los para que possam competir no mercado de trabalho nas áreas
de operador de câmera escura (revelação de filme de radiologia) e telemarketing,
telefonista, áudio locução, fabricação de bengalas e vassouras, tapeçaria, arte
culinária, bijuteria, empacotamento, o próprio Dosvox, dentre outros. Os cursos são
promovidos semestralmente. O Núcleo está localizado no Tabapuá, próximo a Caucaia.
A assistente social Cláudia Pinheiro informou que 11 deficientes visuais estão
trabalhando no Instituto José Frota (IJF), através de uma firma prestadora de serviço.
"Tem também três estagiários de câmera escura no IJF" - acrescentou.
Cláudia também informou já foi realizado em novembro do ano passado um curso de
Conscientização e Informações Turísticas, com a participação de 20 pessoas.
Paternalismo é condenado
"Aqui não temos história de paternalismo. Não oferecemos a mão-de-obra só porque
é deficiente visual, mas pela sua capacitação. A gente sempre prega que eles não
precisam onerar o governo (federal) se aposentando.
Entre deficiência e invalidez existe um longo caminho". As palavras são da
presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), Josélia Almeida.
Segundo ela, a partir da capacitação, os deficientes podem exercer atividades diárias
como qualquer outra pessoa. "É muito importante que as pessoas tenham a informação
de que essas pessoas são capacitadas.
Cabe a nós informá-las" - disse. Josélia destaca que o SAC também vem
desenvolvendo um curso de capacitação para professores trabalharem com deficientes
visuais. O curso tem duração de 420 horas.
Ela informou que a criança desenvolve a visão até os cinco anos de idade. "Se
precisa de óculos e não for atendida vai cegar. Você tem que conservar ao máximo os
resíduos visuais dessa criança" - alertou. A falta de informação da maioria dos
professores da cidade quanto às deficiências visuais de alunos é apontada por ela como
um dos principais problemas. "Esses professores deveriam ter no mínimo uma noção
do problema".
CURSOS REALIZADOS NO INSTITUTO DOS CEGOS:
- Telemarketing
- Conscientização e Informação Turística
- Câmara Escura
- Inglês
- Dosvox para cegos
- Dosvox para professores
- Tapeçaria
- Empalhamento
- Bijuteria
- Arte culinária básica
- Embalagens de Papel
Fonte: Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC)
Volta página principal | Maiores informações: |
Volta página anterior | envie Mail para Webmaster da SAC |