Jornal O POVO
Quinta-feira - 09-04-1998
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Projetos resgatam cidadania de deficientes
Projetos resgatam cidadania de deficientes Projetos de lei em redação final na
Câmara Municipal de Fortaleza querem resgatar a cidadania das pessoas portadoras de
deficiência através do direito de ir e vir oferecendo transporte gratuito e quebra de
barreiras arquitetônicas.
Proporcionar o direito de ir e vir às pessoas portadoras de deficiências e quebrar as
barreiras arquitetônicas para que Fortaleza possa acolhê-las. Esse é o objetivo de dois
projetos de lei apresentados na Câmara Municipal de Fortaleza pelo vereador Machado Neto
(PFL). As matérias já foram aprovadas e estão em redação final para serem enviadas ao
prefeito Juraci Magalhães.
O primeiro projeto diz respeito ao passe livre no transporte público para as pessoas
portadoras de deficiência. Para o vereador Machado Neto, esse benefício é uma forma de
resgate da cidadania já que muitos deixam de se tratar, profissionalizar ou educar por
falta de condições de pagar o transporte. No entanto, o vereador alerta que seu projeto
não é assistencialista. Ele considera que essa vantagem só pode ser concedida para as
pessoas que se encaixam em alguns critérios. "No Brasil há uma mania de aposentar
as pessoas no lugar de reabilitá-las. A nossa idéia não é o passe livre eterno, é só
enquanto ela não está pronta para trabalhar e ganhar seu próprio sustento" -
explica.
De acordo com o projeto de lei, para ter direito ao benefício, o portador de deficiência
deve se enquadrar em pelo menos uma das seguintes situações: encontrar-se em tratamento
de reabilitação em clínica especializada; estar devidamente matriculado e freqüentando
escola especial ou regular; participar de treinamento pré-profissionalizante ou
profissionalizante em instituição especializada ou possuir aposentadoria no teto de um
(1) salário mínimo. Machado Neto avalia que o projeto será sancionado pelo prefeito.
"O prefeito disse que está muito sensibilizado com essa causa". A quebra das
barreiras arquitetônicas para os deficientes é um projeto complementar ao passe livre e,
se posta em prática, é o passo definitivo para esse parte excluída da sociedade se
mostrar. "Hoje a grande briga nos países de primeiro mundo é pelo desenho
universal, ou seja, aquelas obras de engenharia a que todos possam ter acesso da melhor
maneira, sejam portadores de deficiência, idosos, crianças, anões ou mulheres
grávidas" - afirma Machado Neto. Segundo o projeto, todos os prédios de uso
público - inclusive os de propriedade privada - mobiliário e equipamentos urbanos
deverão se adequar para contemplar todos os ajustes necessários. Para o vereador, o que
existe hoje em Fortaleza são ações isoladas de alguns shoppings e estádios, mas que
não surtem um efeito global. "Os projetos são uma colcha de retalhos, ocasionais e
isolados. Precisávamos de um grande projeto que abrangesse essa questão em todos os
sentidos". Se aprovado, o projeto, que dispõe sobre a acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência aos edifícios de uso público, ao espaço e mobiliário
urbanos, deverá ser incluído ao Código de Obras e Posturas do Município. Para a
apresentação da matéria, que é subscrita pelo vereador Durval Ferraz (PT), Machado
Neto realizou discussões com todas as entidades de deficientes e para deficientes de
Fortaleza, com arquitetos, com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(Crea) e utilizou as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
"Não foi uma lei por acaso" - garante o parlamentar, que também é médico e
presidente da ABCR.
Itens estão de acordo com Associação de Normas Técnicas A matéria que dispõe sobre a
implementação de projetos arquitetônicos adequados para o uso por pessoas portadoras de
deficiência foi elaborada com todos os subsídios técnicos necessários, sendo possível
vigorar imediatamente a partir da sua sanção pelo prefeito. Todos os itens estão de
acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O projeto fixa parâmetros, padrões e critérios para a adequação das edificações de
uso público, dos espaços, do mobiliário e dos equipamentos urbanos em Fortaleza às
pessoas portadoras de deficiência. Entre os itens citados estão as rampas de acesso que
devem ter desníveis compatíveis com o uso de cadeiras de rodas. As escadas fixas devem
ter, no mínimo, um patamar a cada 3,20 metros de desnível e sempre que houver mudança
de direção, sendo obrigatória a instalação de corrimãos e guarda. Os corrimãos
devem permitir boa empunhadura e deslizamento. Já os equipamentos eletromecânicos de
circulação, tais como elevadores - que deverão ter portas de no mínimo 0,80 metro,
esteiras rolantes e outros devem ter dimensões compatíveis para a sua utilização de
forma segura.
Sempre que houver barreiras ou obstáculos ao acesso, como, por exemplo, portas
giratórias e catracas, deve ser previsto outro acesso adequado às pessoas portadoras de
deficiência. As janelas das edificações de uso público devem ter sua altura
compatível com os limites de alcance visual para pessoas em cadeiras de rodas. Pelo menos
5% dos sanitários e vestiários de uso público devem ser adequados ao uso de portadores
de deficiência, devendo ser construídos em locais acessíveis e de fácil circulação.
Estacionamentos, arquibancadas, auditórios, estádios e similares também deverão
reservar espaços próprios para essas pessoas com número mínimo segundo as normas da
ABNT.
Todas as ruas deverão ter rampas de acesso alinhadas entre si, assim como os canteiros
centrais das avenidas. Também estão contemplados telefones públicos, praças e outros
equipamentos urbanos.
Coordenador elogia iniciativa
O coordenador do Pacto de Cooperação Pelas Pessoas com Necessidades Especiais,
Aldir Dantas Costa, considera os dois projetos de alta relevância e diz que se forem
aprovados e postos em prática representarão uma mudança na vida dos deficientes. Ele
lembra que apenas oito ônibus em Fortaleza possuem elevador para subir com cadeiras de
rodas e que os motoristas não têm sensibilidade para trabalhar com os deficientes.
Em Curitiba, uma cidade menor do que Fortaleza, são 300 ônibus. Aqui, os ônibus não
param em todos os pontos. Um dia desses um motorista disse "desce logo aleijado"
- conta. Aldir cita ainda que na capital paranaense cerca de 10% dos ônibus são
destinados aos deficientes. O coordenador cita que os dois prédios que representam o
poder legislativo em Fortaleza, a Câmara Municipal e a Assembléia Legislativa, não
possuem rampas de acesso para pessoas portadoras de deficiências.
"Não podemos entrar na casa do povo. Somos eleitores e cidadãos e cobramos
isso". Segundo Aldir, apenas um sinal sonoro funciona na cidade, enquanto existem 20
mil deficientes visuais. Ele diz que para ir ao cinema, a única opção é o shopping
Iguatemi, que também tem banheiros adequados, assim como o North Shopping. "Vamos
fazer um grande evento para sensibilizar os empresários para investirem numa arquitetura
mais humanizada. Afinal, também somos consumidores" - lembra Aldir.
QUEBRANDO BARREIRAS
- Principais pontos tratados pelo projeto de lei que dispõe sobre a
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência aos edifícios de uso público, ao
espaço e mobiliário urbanos no município de Fortaleza.
- Todos de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O que precisa ser feito:
- manter área de circulação, que deverá ter espaços para cadeiras de rodas;
- construção de rampas de acesso externas e internas;
- escadas compatíveis com o uso de cadeira de rodas;
- equipamentos eletromecânicos de circulação adequados aos uso de pessoas portadoras de
deficiências;
- sanitários e vestiários próprios;
- vagas especiais em estacionamentos;
- acesso facilitado a piscinas, clubes, estádios, centros sociais e outros equipamentos
urbanos;
- rampas de acesso alinhadas nas ruas e avenidas; - telefones em altura adequada e outros.
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