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Domingo - 28-03-1999

Fortaleza - Ceará - Brasil
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Ceará tem 500 pacientes na fila do transplante de córneas


Cerca de 500 pessoas estão inscritas na Central de Transplantes de Órgãos do Ceará à espera de córnea. Três hospitais solicitaram credenciamento como centros transplantadores.

O funcionário público Clávio Nunes, 24, esperou um ano e sete meses por uma córnea. Há dois anos fez a cirurgia e conseguiu recuperar 70% da visão do olho esquerdo. Agora, ele se dedica aos estudos, pois pretende fazer vestibular. "Valeu a pena lutar pela cirurgia". No Ceará, pelo menos 500 pessoas esperam a chance de voltar a enxergar e o transplante de córnea é a única solução. Em 1998, houve 85 transplantes e de janeiro último até o último dia 15, foram realizados 32.

O transplante de córnea é menos complicado do que os demais, pois o órgão pode ser retirado até seis horas após o óbito. O potencial doador deve ter de quatro a 75 anos, não apresentar quadro de infecção generalizada e nem ser HIV positivo. Os candidatos à cirurgia são geralmente vítimas de traumas, perfuração, úlcera corneana ou queimadura. Na lista única da central têm prioridade os casos que exigem urgência de operação.

De acordo com a Associação Brasileira de Bancos de Olhos e Transplantes, houve uma redução no índice de doações de córneas. Enquanto em 1997 foram 2,5 mil, no ano passado o número caiu para 1,5 mil. Segundo a entidade, um dos motivos teria sido o impacto da lei dos transplantes. Em conseqüência da polêmica, o governo baixou uma medida provisória garantindo que nenhum órgão será doado sem a prévia autorização das famílias. E, por causa dessa medida, o quadro estaria mudando.

O diretor do Banco de Olhos da Sociedade de Assistência aos Cegos, Valdo Pessoa, diz que de 1993 para 1999, as doações diminuíram 50%. Há seis anos, foram realizados 142 transplantes e 97 em 1995. Já em 1996, o número de cirurgias baixou para 90 e em 97, para 71. No ano passado, houve recuperação com 85 cirurgias realizadas. "A lei é democrática e muito avançada, o problema é o povo que não quer ser democrático". Ele é a favor de que haja campanhas educativas para incentivar as doações.

A vice-coordenadora da Central de Transplantes, Eugênia Filizola, lembra que no primeiro trimestre de 1998 houve redução do número de doador cadáver e todos os transplantes foram afetados, mas depois houve uma recuperação.

Eugênia ressalta que a população está se conscientizando sobre a necessidade de doar e já se observa mudança também no comportamento dos profissionais de saúde, pois estão informando com mais rapidez.

Três hospitais solicitaram credenciamento como centros transplantadores de córnea: Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará (HC), Clínica Leiria de Andrade e Hospital Santo Inácio, de Juazeiro do Norte. Atualmente, apenas o Instituto Doutor Hélio Góes, da Sociedade de Assistência aos Cegos, faz a cirurgia.

À espera de uma córnea

Adelaide Carvalho, 77, diz ter saudades do tempo em que fazia crochê, ponto de cruz e confeccionava redes. "Sem visão, não faço mais nada, sou uma inválida", reclama. Ela já foi operada de glaucoma e de catarata e não obteve sucesso.

Há dois anos, Adelaide fez transplante de córnea no olho direito, mas devido à rejeição terá que tentar outra vez. Ela está na fila à espera de doação e, apesar do grande número de pessoas que se encontram na mesma situação, tem esperança. Ela conta que enxerga pouco pelo olho esquerdo. "Se eu conseguir a córnea, ainda poderei fazer muitas coisas .


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