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Sábado - 04-12-1999

Fortaleza - Ceará - Brasil
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Saúde ocular de 126 mil crianças será analisada


Campanha avaliará a visão de crianças matriculadas na 1° série das escolas públicas de 21 municípios cearenses.

Maheli Chaves Santiago, de 7 anos, aluna da Escola de Ensino Fundamental Estado do Paraná, é uma das 126.286 crianças no Ceará que cursam a 1° série e nunca passaram por exame oftalmológico ou não têm condições de completar o tratamento ou mesmo comprar óculos, se necessário. "Enxergo tudo embaralhado", diz. A situação se agrava quando pesquisas indicam que 85% do contato com o mundo se dá pela visão. Para Maheli, o mundo foi sempre assim: fora de foco, embaçado. Um problema que atinge cerca de 10% das crianças estudantes de 1° série em todo Brasil.

Segundo a presidente da Sociedade de Oftalmologia do Ceará (SOC), Islane Castro Verçosa, os problemas visuais trazem sérias conseqüências para o desenvolvimento das crianças, com reflexos no presente e no futuro. As crianças que não enxergam direito não conseguem acompanhar as aulas, têm problemas de atenção, coordenação motora, indisciplina, falta de interesse e, muitas vezes, repetem o ano.

Outro problema é o isolamento, por não conseguirem participar das brincadeiras, ocasionando a falta de convivência com os colegas e contribuindo para a evasão escolar. Por má informação de pais e professores, a deficiência visual pode ser confundida até com atraso mental.

Para recuperar e melhorar a visão de milhares de crianças, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Ministério da Educação e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação se uniram - pelo segundo ano consecutivo - na Campanha Nacional de Reabilitação Visual Olho no Olho. No Ceará, participam 80 oftalmologistas, 45 clínicas, secretarias de Educação e Saúde e educadores de 2.579 escolas públicas.

De acordo com a coordenadora de saúde ocular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Leonete Borges de Almeida, a participação dos professores está sendo fundamental para viabilizar o atendimento. Treinados e capacitados, eles fazem uma triagem e encaminham seus alunos para a consulta. Aqueles que apresentarem sinais de problema - contingente estimado em 44.208 alunos - serão levados ao médico. No fim da campanha, quem necessitar receberá óculos. "Estimamos que 20.325 alunos usarão óculos", observa.

Hoje, a Clínica Leiria de Andrade receberá 400 crianças para serem examinadas. No
Instituto dos Cegos também haverá atendimento em mutirão, com 220 para serem examinadas. Os dias 6 e 7 próximos serão os últimos de atendimento da campanha.

Campanha - Informações sobre a campanha podem ser obtidas na Comissão de Saúde Ocular da Sesa ou na SOC, pelos telefones 488 2092 ou 264 9404.


Professores treinados para aplicar exames

Segundo Leonete Borges, desde 1992 os professores de 51 escolas públicas de Fortaleza, onde 72 mil alunos participam do Projeto Escola Viva, estão treinados para aplicar o teste de acuidade visual. Para a campanha de reabilitação visual deste ano, ela afirma que o treinamento dos professores teve início por volta do mês de agosto último. "Como os professores do Escola Viva já estavam treinados e capacitados, o trabalho foi mais ágil com essa população", diz.

De acordo com ela, 674 escolas estaduais, que já encaminharam os alunos ao oftalmologista por ocasião da campanha, devem está recebendo os óculos em algumas semanas. "Já contactamos as óticas e os óculos já estão sendo feitos", diz.

Como a campanha abrangeu apenas os municípios com mais de 50 mil habitantes, Leonete observa os que não contemplados serão beneficiados em um projeto desenvolvido pela Secretaria de Saúde do Estado. Além disso, ela acrescenta que o Escola Viva deverá atender ao Interior. "Em nossas pesquisas para o Projeto Escola Viva no Interior no próximo ano, 81.347 alunos precisarão de óculos, com investimento de R$ 1.220.205,00".


Dificuldade para brincar

Ângela Jéssica, 11 anos, estuda na Escola de Ensino Fundamental Estado do Paraná e há cerca de dois anos não vê  "direito o que a professora escreve na lousa". Depois de passar pelo teste de acuidade visual, realizado por sua professora, ela foi encaminhada para um oftalmologista examiná-la. "Tenho dificuldades de brincar e de ver as coisas como meus amigos", diz. Ângela é uma aluna razoável, mas desde o ano passado suas notas foram baixando. "Sou mais ou menos no colégio. Tenho uma certa preguiça de aprender a ler direito. É difícil", explica.


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