Jornal TRIBUNA DO CEARÁ
Domingo - 10-04-1994
Fortaleza - Ceará - Brasil
IDÉIAS
Informação combate cegueira


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Os problemas da falta de visão poderiam ser evitados se a população tivesse conhecimento sobre as doenças, os sintomas e a situação sobre o mal
 

      A saúde ocular, em todo mundo, não vai bem. A frase popular, "veja o mundo com bons olhos", saiu de uso e de acordo com os órgãos competentes de saúde do mundo todo, a situação piorou de dois anos para cá. Estima-se que dos 40 milhões de cegos que existem hoje no mundo poderiam ter salvo suas vistas pelo simples fato de conhecerem as doenças, os sintomas e as situações podem levar à cegueira. O Conselho Brasileira de Oftalmologia calcu1a que 2% dos brasileiros com idade a partir de 50 anos - 15% da população - necessitam de óculos e 1 % de cirurgia de catarata. No Ceará, 90% das pessoas atendidas nos consultórios do INSS (19 ao todo) apresentam problemas de refração ocular (necessidade de usar óculos). O tracoma (doença infecciosa da córnea ocular e pálpebras) atinge 20% da população infantil nas regiões do Maciço do Baturité e Serra da Ibiapaba, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado.
      Nessa onda de saúde ocular precária, parece que o Ministério da Saúde resolveu apelar para o misticismo. Escolheu o número sete como o preferido do ano de 94. Dia 7 de abril foi o "Dia Mundial da Saúde e da Saúde Bucal". Dia 7 de maio comemora-se o "Dia Mundial do Oftalmologista" e sete dias depois sete entidades (Ministério da Saúde, Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Associação Médica Brasileira, Cursos de Especialização em Oftalmologia, Lions Internacional, Prefeituras e empresas privadas) realizarão nos dias 14 e 15 de maio, um mutirão de consultas em 17 Estados (incluindo regiões e Municípios) carentes de assistência oftalmológica. O objetivo dessa campanha é triar indivíduos com idade acima de 50 anos, portadores de visão igual ou menor que 0,2 no melhor olho. Após o exame, todos receberão gratuitamente os óculos prescritos ou serão submetidos à cirurgia de catarata. Pegando a carona do. dia "7 de maio", a Secretaria de Saúde do Estado dará início ao seu projeto de pesquisa, que pretende fazer um levantamento da prevalência da ambliopia (quando a visão é baixa ou insuficiente em um olho ou nos. dois, principalmente em crianças) e tracoma, em creches, escolas públicas de Fortaleza e algumas cidades do Interior do Ceará. Serão examinadas crianças de 2 a 14 anos.
A pesquisa vai abranger 230 escolas em Fortaleza e seus organizadores esperam que os resultados mostrem o real quadro epidemiológico do Estado. A partir desses dados, a Secretaria de Saúde, através do seu departamento de Saúde Ocular, terá condições de verificar a "eficácia do tratamento dentro das nossas condições sócio-culturais", explica o médico Fernando Monte, presidente da Comissão de Saúde Ocular. A primeira fase da pesquisa será a formação de grupos. de agentes de saúde, para que tenham condições de aplicar o teste de medição da acuidade visual e identificar casos de tracoma.
      O projeto de Ação de Saúde Escolar, que abrange o atendimento bucal e ocular, e a realização da pesquisa recebem recursos do Projeto Nordeste, que destinou. só para a pesquisa, US$ 10 mil. A equipe criada pela Comissão de Saúde Ocular é formada por representantes do HGF, Instituto dos Cegos, Seduc, Sesi, Hospital Infantil Albert Sabin, Sociedade de Oftalmologia do Ceará, Associação dos Cegos, Ipec, Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão, 10º Deres (Sobral) e Secretaria de Saúde do Município.

DEFICIENTE VISUAL SOFRE PRECONCEITO

      Num mundo em que 85% do relacionamento humano com o meio ambiente é feita através da visão, perdê-la significa transtornos para a pessoa e sua família. "A reação da família acontece em dois momentos: no primeiro, se a família é de classe média, ela protege o cego tratando-o como incapaz. No segundo, se a família é de classe pobre, ela o explora, fazendo-o pedir esmolas. Nos dois casos, o cego não é tratado com respeito humano que merece e as causas de sua cegueira continuaram inexistindo para a família, que também não trata as doenças oculares do cego", comenta o médico Waldo Pessoa de Almeida, diretor Presidente do Instituto dos Cegos do Ceará.
      Para reabilitar uma pessoa cega é preciso muito trabalho e dedicação. O cego pode exercer muitas atividades. tanto no ambiente doméstico, como no trabalho. Para isso precisa ser treinado e educado. Pensando nisso, o Instituto dos Cegos, que existe há 52 anos, mantém uma equipe permanente, interdisciplinar, formada por oftalmologistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, massoterapia, fisioterapeutas, assistente social, e músico recriador. Tudo isso para atender os cursos de locutor de rádio, telefonistas - em maio a Teleceará dará curso teórico de tel-fonia -, bibliotecário entre outros. Além disso, a produção de vassouras e rodos atingem a marca de 500 unidades/mês, atendendo o mercado interno de Fortaleza.
      Maio, mês das boas notícias, o Instituto estará recebendo uma imprensa braile, de US$138 mil, comprada ao governo da Noruega. Ela servirá para modernizar e atualizar o acervo da biblioteca.

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      Nos consultórios do Instituto dos Cegos, passam, por dia, 150 pessoas entre consultas particulares, de convênios e do INSS. Além disso, o Instituto faz 300 cirurgias por mês, incluindo transplantes de córnea, funcionando de segunda a sábado, das 7 às 17 horas, onde 17 médicos se revezam em dois turnos. O Banco de Olhos, fundado em 1987, obteve em 93 seu recorde de doações: 142. Para continuar atendendo tantas pessoas de forma eficiente, o Instituto in-veste na compra de aparelhos modernos como o AR-1600 Auto Refractometer, que serve para verificar o grau necessário do paciente, e laser de argônio e o laser Yag.


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